Por que esse filme gerou tanto papo online? Reações indo de “não vou ver porque só gente chata está vendo” a “É isso mesmo que tá acontecendo, a humanidade tem que acabar!” (o que é uma reação estranha já que o filme foi feito para satirizar a realidade, mas falemos sobre isso mais adiante) passando por “Odiei”, que é o pior tipo de comentário junto com “Adorei”, afinal por que raios a pessoa odiou ou adorou? Pela boa ou má fotografia? Pela sátira boa ou ruim?

Enfim, seja como for o filme gerou flame, hipe, discussões acaloradas, mas poucas vezes muito úteis. Sabe como é, nós humanos somos péssimos em nos expressar e até em pensar quando estamos sob forte emoção.

Ah! Importante: Não darei spoilers, tá? Acho inclusive desnecessário.

Por que o filme causa ódios e paixões?

Parece óbvio, mas acho melhor refletir um pouco sobre isso pois é o fator que tem feito muita gente avaliar o filme melhor ou pior que ele merece.

Depois de 2 anos de pandemia só as pessoas que estão em algum tipo de catatonia pós traumática se sente calma e tranquila e tudo que se remete às coisas que pioraram a crise causa algum tipo de paixão ou rejeição: mídia irresponsável, sociedade fútil, políticos estúpidos e egocêntricos, líderes gananciosos (e bem estúpidos e egocêntricos também) de grandes corporações e o negacionismo diante da realidade que nossos cientistas nos apresentam.

Aliás, de certa forma tudo começa no que chamo de efeito Gandalfo: as pessoas atacam o mensageiro da má notícia e não a causa dela… É um instinto covarde, talvez, mas não é de hoje que o vemos, e com isso não quero de forma alguma “passar pano” para o negacionismo, mas lembrar que, bem, essas pessoas também morrem de covid, até morrem mais pois se protegem menos. Efeito esse que também atinge o filme, né?

Algumas obras mexem com as nossas emoções porque vão às suas origens ou nos mostram uma nova forma de ver o mundo, outras simplesmente porque falam de um tema que… dá gatilho. É o caso desse filme, penso eu. Exceto por uma cena que realmente me tocou, mas não digo para não fazer spoiler, se quiser diga nos comentários qual cena você acha que foi.

Resumindo: Desconfio que o filme causa reações por satirizar várias coisas que tem nos causado muita perturbação nos últimos anos e até por ser trazer gatilhos emocionais para muita gente.

O que o filme quer dizer?

Me parece que essa é uma das melhores formas de avaliar um filme: o que ele quer dizer? Ele faz isso bem?

Não Olhe para Cima quer tenta satirizar o futuro como fez Idiocracia em 2006 quando o presidente dos EUA era o Bush e Trump só viria em 2017? Não, ele procura pegar os últimos anos e representá-los caricaturesca e satiricamente. Essa é a proposta bem clara: representar em suas formas mais ridículas e estereotipadas o que temos visto de pior na mídia, na política e na sociedade.

O filme cumpre sua proposta?

As representações são tão óbvias e planas que quem assiste pode sentir, com razão, que lhe trataram como idiota e essa é até uma boa razão para não gostar do filme, mas que no entanto não me incomodou. Acho que faz sentido um filme sobre idiotice ser raso e ao alcance de qualquer idiota. Talvez até seja parte da proposta: vamos fazer de um jeito que não tenha dúvida quem cada personagem representa e qualquer idiota perceba (e mesmo assim vi idiota não percebendo hehehe).

Se me parecesse que fazer uma crítica construtiva sobre as causas da idiotice global estava entre as propostas do filme eu teria que dizer aqui que ele falhou, mas realmente não vejo qualquer outro esforço além do de caricaturizar as pessoas.

Nesse ponto você pode dizer que acha isso nocivo e vou até concordar, principalmente quando se escolhe para os cientistas a caricatura da dificuldade de comunicação quando temos cientistas que são ótimos comunicadores (alguns nessa sequência do Twitter a partir desse ponto) ou a caricatura é feita sem dar espaço a esperanças de recuperação da sociedade, do desenvolvimento de uma cultura que nos permita impedir a multiplicação da idiotice.

No entanto… Mais uma vez, o filme não dá nenhum sinal de ser mais do que uma caricatura. Exceto pela cena que eu disse que me emocionou, mas talvez os criadores não tenham mesmo muita esperança na humanidade, como aliás muitas pessoas que eu conheço e esse pode até ser mais um ponto em que o filme cumpre bem sua proposta.

Nenhuma obra tem obrigação de ser otimista, pessimista ou realista (muito embora eu prefira as realistas).

Ah! Ele cumpre muito bem a proposta dele? Não acho. E por isso tenho dito que é um filme ok. Ele faz o que se propõe a fazer, mas sem grandes destaques… Nem na cena que me emocionou, afinal ela está meio deslocada da narrativa predominante.

Sim, estou vendo se consigo despertar sua curiosidade para conquistar um comentário, quase ninguém lê blogs e menos ainda deixam comentários hehehehe, como fica meu ego? ;-P

E cinematograficamente?

Bom, não sou o Max Valarezo e não estou realmente qualificado para falar nisso, mas teve uma coisa que observei no filme e me causou pelo menos alguma surpresa: a edição rápida adotando um ritmo que lembra JFK: A pergunta que não quer calar (1991), algo que não lembro de ter visto em uma sátira e pode até tornar o filme um pouco confuso, mais uma coisa que pode desagradar um bocado de gente.

Essa estratégia de corte me deixou intrigado, me perguntando o motivo de ter sido escolhida e esperando que alguém que entenda de cinema me explique ;-)

Para mim isso é uma qualidade cinematográfica: nos intrigar com uma escolha de direção, montagem, fotografia etc.

A escolha de elencos “de algoritmo” como já vi algumas pessoas chamarem, ou seja, escolher pessoas que vão atrair diversas audiências, é uma estratégia cada vez mais comum nessas plataformas de streaming, que começou, acho, com House of Cards (2013). É uma característica que talvez não se enquadre bem em “cinematografia”, mas tinha que colocar em algum lugar, né? E é outro fator que pode causar paixões de quem adorar a seleção e rejeições de quem sentir que está sendo alvo de manipulação (e tá mesmo). Seja como for, acho que, além do algoritmo, todos atuaram de acordo com a proposta caricata e estereotipada, mas não é surpresa porque não tem sequer um ator ruim ali, né? Só daria errado com uma direção péssima.

E a direção é boa? péssima? excelente?

Como já disse não vi razão para achar nada excelente no filme, mas também não vi nada consistentemente péssimo. Não senti perda de ritmo, desvio da história etc. Então a direção, roteiro e edição devem merecer ao menos um “ok” ou um “maneiro” se quisermos valorizar mais nossa língua.

Fotografia, efeitos, trilha sonora, figurino… A menos que a gente queira considerar que foi brilhante como o figurino soube identificar quem os personagens representam da vida real… Não. Não vou querer não, são representações muito óbvias. Então também acho tudo isso “de boas”.

Vale a pena ver?

Acho facinho responder isso!

Você vai se irritar vendo uma sátira rasa e óbvia de alguns dos comportamentos mais idiotas das nossa civilização, que sempre estiveram aí mas passaram a incomodar muito mais nas duas últimas décadas? Não veja.

Será um tipo de catarse, uma experiência de vingança ver as pessoas que tem acabado com “o nosso emocional” (adoro essa expressão e acho que nunca usei!) sendo ridicularizadas? Você gosta de comédia meio besteirol? Deve te divertir.

Tá pensando em ver porque tá todo mundo falando ou em não ver porque tá todo mundo falando? Pare de decidir sua vida pelos outros e arranje bons motivos para ver ou não ver!

O parágrafo acima é só porque estou acostumado a se zangarem comigo e acho que esse post estava muito bonzinho e agora tem amigo que, se ler (meus amigues raramente me leem). vai vestir a carapuça e ficar com raiva de mim (talvez por isso raramente me leiam hahahaha), mas alguém tem que dizer que é meio ridículo decidir o que ver ou ler somente pela popularidade… Tá, a gente quer estar por dentro e saber por que todo mundo está falando de uma coisa, mas aí tem posts como esse meu. Procure no Google que sempre terá alguém fazendo uma análise racional das coisas. Estou considerando que minha análise foi racional ;-P

Outras vozes

Imagem: Netflix