Peguei o filme sem esperar muito, aliás esperando ver outra vez a transformação de uma história marcante em correria de ação cinematográfica e muitos efeitos especiais.

Invasores é mais uma adaptação do clássico Invasores de Corpos de 1976. Aliás vale comentar que a protagonista do primeiro tem um papel coadjuvante neste.

Quem viu o original ou as refilmagens sabe que se trata de uma história opressiva e angustiante. Não entrarei em detalhes porque se tem algo que odeio é ficar entregando as surpresas dos filmes.

O que vou comentar são algumas coisas que me surpreenderam muito positivamente nessa versão. Aliás, a tal ponto que prefiro ela ao original, coisa que raramente ocorre comigo.

A primeira qualidade do filme que me chamou a atenção foi a edição utilizando micro flashbacks & forward. Funciona mais ou menos assim: um personagem diz ao outro que vai pegar o pé de cabra no porão e pede que o outro vá fechando as cortinas enquanto isso (não existe esta cena) e entre uma frase e outra há flashes deles minutos depois fazendo o que estão combinando.

Parece besteira, mas bem usado confere um dinamismo agradável em cenas que seriam totalmente sem graça. Além disso reproduz em nós a tensão que o personagem sente diante de certas percepções repentinas.

Pode não ser a primeira vez que isso foi feito, mas foi a primeira vez que vi tão bem feito.

Até aqui seria apenas um filme bem dirigido e editado, isso não basta para me estimular a escrever sobre ele.

 O que ocorre é que na minha opinião essa releitura é uma obra já com o espírito do século XXI.

Enquanto a obra original nos remete diretamente à paranóia anti-comunista dos tempos de Macarthur e à nossa impotência diante de uma cultura massificante e “desindividualizante” esse (mesmo sem intenção aparente dos produtores, roteiristas e diretor) parece ser levado por outros ventos.

Vale a pena nos desumanizarmos em nome da paz?

Isso não chega a ser a síntese da aventura, não creio que haja uma intenção tão definida na obra, mas creio que essa é uma questão moderna que acaba se esgueirando nas coisas que criamos.

Outro insight interessante é a respeito da fibra dos personagens que me parecem muito mais fortes do que no original e, como em Senhor dos Anéis, capazes de ir além do ponto onde todas as esperanças se esvaíram pois não lutam por eles, lutam pela humanidade. Essa é uma das qualidades que mais admiro em nosso tempo: acredito que nunca antes nossa espécie se preocupou tanto com a espécie, ou mesmo com outras espécies simplesmente pelo valor humanista de que toda existência é rara e sagrada, mesmo a de um animal ou vegetal.

Enfim, Invasores para mim é um exemplo interessante das transformações que nossa cultura vem sofrendo e, de bônus, ainda é um thriller bastante empolgante!