Passei uns 10 anos sem canais abertos e uns seis sem canal nenhum (qq dia conto essa história), mas há dois meses cedi a uma antena digital e agora vejo os 3 canais que estão pegando, aliás, sempre falei, e continuarei falando, mal da TV digital, mas outro dia explico por que acabei me entregando.
O fato é que estou assistindo a série Clandestinos que está rolando na Globo e que aparentemente já tem segunda temporada confirmada.
A série não tem aquela estética surpreendentemente experimental de outras como Hoje é dia de Maria ou Afinal, o que querem as mulheres, mas tem pelo menos uma qualidade muito especial: ela fala de gente.
Não é que outras obras de ficção da TV não falem de gente, mas é que elas falam de pessoas tão irreais que chega a dar raiva (como psicopatas que ficam bonzinhos, voltam a ser psicopatas, depois voltam a ser bonzinhos e se tornam psicopatas de novo! Argh!!!) e só com muita boa vontade e graças à incrível capacidade de abstração do nosso cérebro conseguimos nos distrair, mas, francamente, desconfio que essas personagens alimentam a perplexidade que nós alimentamos hoje diante da aparente imprevisibilidade das pessoas.
Bem, em Clandestinos a gente vê histórias reais – ou pelo menos que parecem bem reais – de gente que sonha com a carreira artística. Uns totalmente amadores, outros na labuta diária de fazer arte em uma época em que a cultura de massa ainda sufoca a delicadeza da criação mais profunda e livre.
A história, para quem não sabe, é simples: Um diretor de teatro resolve fazer uma peça sobre os atores (ou aspirantes a atores) representam suas próprias histórias, são corroteiristas e intérpretes das próprias jornadas.
Acho essencial que a TV faça esse caminho de volta, alimentando-se das histórias das pessoas “comuns” em vez de criar fantasias cada vez mais destacadas da realidade.
Há muitos atores e atrizes novos em Clandestinos o que me fez lembrar de Malhação que, me parece, é um tipo de porta de entrada para novos atores. Me parece que vieram todos de teatro como a Elisa Pinheiro que faz o papel de produtora e já vi em produções independentes bem interessantes.
Seria ótimo ver esse paradigma da série Clandestinos ser aplicado a Malhação também pois, se há uma coisa que parece caracterizar as novas gerações digitais é que as histórias comuns voltam a ter valor, mesmo quando há uma certa perversidade nisso.
Nas mãos de um bom artista as histórias comuns podem ser retratadas sem a perversidade corriqueira do jornalismo que invade os desastres familiares ou do espectador que busca momentos ridículos (#safadezaoculta) de terceiros.
Vale repetir aqui a cena que me fez chorar (pacas) – Infelizmente estava em um serviço de vídeo da Globo que foi descontinuado.