Imagem: Material promocional
Eu tinha 10 ou 11 anos quando assisti o primeiro, que era o quarto, filme da série que, sem dúvida, mexeu com a forma como se faz ficção científica.
Eu era nerd. Cada um se torna nerd por seus motivos, mas na década de 70 nerd se chamava CDF (e demorei a descobrir o que significava), era muito pejorativo e coisa de gente com poucos amigos. Esse era eu quando vi Guerra nas Estrelas, que aliás já descobri que, se não chamar de Star Wars, tem gente que não sabe do que se trata.
Eu adorei tudo imediatamente, é claro! Um CDF desajustado encontra a história de um moleque vivendo à margem de uma galáxia em convulsão sócio-política? Era um prato de bife com batatas fritas (era o que nos dava água na boca. Isso e leite condensado “mamado” na latinha).
Aí história do escolhido é uma fórmula quase garantida de sucesso. Do Luke ao Harry Potter passando por Neo e, claro, a Gata Borralheira (É… Homens e mulheres tem devaneios em comum afinal de contas).
Fui crescendo, me tornando mais crítico a ponto de passar a criticar muito essa síndrome do herói. Até gostei quando vieram os episódios de um a três (que, para confusão dos leigos, são os de quatro a seis na ordem de lançamento) e o papel do escolhido se diluiu sendo parcialmente substituído por grupos de amigos. Pena que essa foi uma das poucas qualidades dessa segunda trilogia e praticamente todo mundo reclama dela.
Desde que soube que seriam feitos os filmes de sete a a nove (e finalmente os leigos não se confundirão pois a cronologia da história finalmente encaixa com a de lançamento) não me interessei.
Mais um filme de navezinhas e laserzinhos e zuonnnn zuonnnn dos sabres de luz.
Dizia isso como forma mais de provocação, claro. Cresci pensando em guerras nas galáxias e adoro, mas pense em como o universo de scifi pode ser absurdamente mais vasto que o universo de navezinhas.
Hoje mesmo estava lembrando de O Predestinado, que deve ser o filme de viagem no tempo mais brilhante e um dos filmes mais provocadores que já assisti, mas é um entre muitos porque viagem no tempo também virou um pouco clichê e scifi pode ser muito mais que isso também!
Vale aqui um minuto de silêncio para o desastre que foi Eu Robô, filme baseado na história de Asimov para a civilização robótica e que virou um tipo de Ataque dos Robôs assassinos.
Então fui seguindo a vida desse jeito. Vendo e lendo obras de fantasia, scifi e literatura muito mais criativas, profundas, instigantes etc que Star Wars jamais será.
É… Mas sem Star Wars talvez não houvesse um mercado de consumo para scifi.
Bem, mesmo assim fui segundo a vida e meio que ignorando a crescente ansiedade dos amigos e a pressão do marketing.
Nem comprei meus ingressos até essa semana.
Pois é. Até essa semana. Meus ingressos (meu e da minha esposa) estão bem guardados esperando o dia 18 à tarde.
Quem me conhece sabe que a mentira é um recurso que eu evito com extrema persistência. A tal ponto que mesmo amigos superficiais não me fazem aquelas perguntas que sabem que exigiriam uma mentira para não causar desconforto.
Eu não direi portanto que estou indo apenas por curiosidade. Não.
Semana passada fui assistir No Coração do Mar (recomendo) e dei de cara com um totem de quatro lados com Rey, Finn, Han e… mais alguém.
Não foi uma surpresa, já havia passado por várias propagandas, visto todos os trailers, mas uma coisa fez clique ao ver a expressão determinada da Rey (que também não era a primeira vez que eu via).
Nossa mente tem dessas, não é mesmo? Uma coisa faz clique e booom, mudamos nosso jeito de ver alguma coisa.
Tento ser sincero também comigo e fiquei refletindo por uns dias se eu tinha finalmente caído na massiva estratégia de marketing e influência dos amigos ou se alguma rede de expectativas finalmente se conectou em minha mente.
É claro que expectativas podem ser frustradas, mas é mais decepcionante deixar de conferir em primeira mão e ter a experiência da descoberta prejudicada por spoilers.
A expectativa que se formou naquele momento, entrando no cinema para ver um obra inspirada em um clássico, foi a de gente de verdade, um homem jovem e inexperiente, uma mulher solitária perdida no mundo que se encontram com algo maior em suas vidas, que descobrem que podem ser engrenagens do presente e do futuro. Todos nós somos pequenas engrenagens.
O mundo funciona sem nós, é claro! Mesmo que nós sejamos engrenagens maravilhosas provavelmente ninguém notará que existimos, mas nós saberemos que vivemos como parte de um mecanismo maior, uma civilização, e fizemos nossa pequena parte.
Dois dias depois corri para um cinema e comprei os ingressos sentindo o mesmo aperto no peito que senti ao ver os episódios de quatro a seis ou ao ler uma grande obra de literatura.
Algo me diz que no meio de explosões, correrias, navezinhas e zuonnnns zuonnnnns teremos belas histórias humanas. E se não tiver, se for uma grande decepção, pelo menos estarei lá para ver por mim mesmo.
Que venha logo o dia 18/12!!
Se preferir assistir a ler eu fiz um vídeo falando mais ou menos a mesma coisa: