Imagem: material promocional da Netflix

A gente precisa parar com essa história de chegar no Twitter, no Facebook e dizer “Que droga!” ou “Perdi 2h da minha vida!”

Por que é uma droga? A história não é convincente? Há furos no roteiro? A história é ruim porque não entrega o que promete?

Se não deixamos claro por que uma coisa é boa ou ruim a nossa opinião foi inútil, não é mesmo?

Então vamos começar dizendo que Bird Box não é ruim muito embora não seja muito bom.

Se você perceber que o filme é um triler de suspense cujo objetivo é nos deixar tensos do início ao fim com a expectativa do que acontecerá e nos colocando no lugar daquelas pessoas então ele entrega razoavelmente bem o que propõe muito embora não chegue perto de outros que fizeram isso muito melhor como It Follows (A Corrente do Mal) e, dizem, Quiet Place (Um Lugar Silencioso).

Aliás o equívoco com expectativas tem sido um grante obstáculo para que a gente tenha prazer com livros e filmes ao esperar que eles nos contem o que queremos ver em vez de aproveitá-los buscando o que eles querem nos dizer. Fiz até um vídeo sobre isso:

Como gostar de (quase) qualquer filme

Ainda assim falta a Bird Box um bom roteiro, apesar do roteirista Eric Heisserer ter feito bons trabalhos como A Chegada (baseada num conto do livro Histórias da sua vida e outros contos). Talvez a falha seja fruto dessas decisões de marketing já que a diretora Susanne Bier, apesar de eu não ter visto nada dela, é conhecida por saber dar atenção a emoções explosivas e laços familiares complexos.

Lendo os cinco primeiros capítulos do livro (disponível na Amazon por 12,90 digital ou 29,90 em papel) dá para notar que é uma obra com foco justamente em tópicos que o roteirista e a diretora parecem dominar, mas isso tudo foi descartado no filme.

O que resta é uma sequência de momentos tensos e algumas cenas, muito bem encenadas por Sandra Bullock na minha opinião, em que temos a nítida impressão que deve ser emocionalmente intensa e multifacetada no livro, mas sem força no filme.

Por isso é fácil não gostar do filme:

  • Sentimos espaço para aprofundamento nos personagens, mas que não acontece
  • A tensão do filme está lá, mas é lenta e não acelerada como sugerem os traillers
  • Tendemos a apostar na explicação do mistério ou resolução da história que, como não são o foco da obra, acabam sendo decepcionantes
  • Se buscarmos uma mensagem central no filme podemos fazer ginásticas indutivas, mas dificilmente acharemos algo que o torne instigante nesse aspecto. Talvez nesse sentido o mais marcante seja a questão dos laços de maternidade, que talvez sejam intensos no livro, mas francamente, ficam fracos no filme apesar de uma cena em que Sandra Bullock chega perto de salvá-la

Esse, portanto, é um filme para ver sem grande compromisso, com o espírito de ver uma sequência que está mais para suspense que para terror e que não vai muito além de nos manter por um tempo tensos e aliviados por não estarmos vivendo aquilo.

Talvez dê para inspirar alguns paralelos e reflexões sobre a nossa própria vida, mas provavelmente será mais pelo mérito da sua própria criatividade e inteligência que do filme.

Quando tiver lido Bird Box faço uma resenha sem spoillers.