É necessário admitir que Afinal o que querem as mulheres? é brilhante. Desde o roteiro à construção de uma narrativa e estética oníricas, irreais e instigantes, no entanto fica logo claro que não é em busca dos desejos das mulheres que a história nos conduz e, talvez por miopia, até agora não vi de onde vem, para onde vai ou mesmo por que meios de transporte a história segue. É tudo uma grande incógnita. Um vazio de sentido numa superexposição dos sentidos.

A boa arte é assim, um fluxo de imagens, sentimentos e delírios do artista que ora assiste perplexo o que está acontecendo, ora crê que tem controle sobre a obra, mas ao entregá-la ao mundo percebe que ela o transcende.

Creio que é o que ocorre com essa minisérie. Não consigo pensar no que os artistas pretendiam dizer, mas consigo ler muitos significados.

Uma das coisas que mais me chamam a atenção é que todos os personagens me parecem incompletos. Como se fossem apenas reflexos que captamos brevemente nos vidros das lojas enquanto caminhamos por um shopping. Um shopping de fragmentos de almas humanas.

Conhecemos gente demais, experimentamos realidades (e fantasias) demais e talvez acabemos por perder nossa integridade.

André Newman se perde totalmente em sua busca pelos desejos das mulheres pois isso não era o que sua alma desejava e buscava, em breves momentos lá no primeiro capítulo, aliás, nos primeiros minutos do primeiro capítulo da série: O que sua alma deseja é a amizade honesta com a mulher que ama e dias simples povoados pelos prazeres das pequenas coisas como jogar pedrinhas num lago ou se entregar à simples companhia de pessoas que amamos.

Esse post poderia terminar no parágrafo acima, mas preciso falar mais. Talvez para provar a teoria acima, talvez para eu mesmo me entregar ao prazer puro de lembrar de momentos simples.

Enquanto Newman vive uma vida cada vez mais onírica encontrando seu pai no meio de um túnel movimentado, Lívia, que poderia representar a sabedoria telúrica das bruxas, anda de bicicleta ao redor da lagoa com seu novo companheiro, caem e se entregam às gargalhadas infantis.

André Newman é um intelectual que parece galgar sua história entre sucessos e fracassos, mas carece de solidez, é uma sombra capaz de se dissolver se for atirada em um vale longe da civilização em uma tarde ensolarada de primavera. Ele talvez entenda a a mente humana, mas definitivamente não entende o prazer humano. Não o encontra na pesquisa, nem nos braços da russa Tatiana (também uma força elemental da natureza) e nem encontrará no sucesso profissional.

Ignoro se essa dicotomia entre o prazer intelectual e artificial da civilização e o prazer humano com a simples existência está nos planos dos criadores da minisérie, mas, percebo agora, é o ponto central para mim, ponto com o qual eu concordo.

Entenda que não digo que devemos abandonar a civilização, sou um ser digital, somos todos seres de bits e de átomos. Não podemos ser felizes sem alimentar nossas duas naturezas nas proporções adequadas – que variam de um humano para outro.

E, no entanto confesso… É na visão do olhar sincero de outro humano, na riqueza de cores de um por do sol (como o de ontem) que encontro os meus mais profundos prazeres… E sou digital…