Imagem: material promocional oficial

Eu gostei. Mas calma, nem vá correndo ver o filme e nem me xingue por ter gostado daquilo. Já vou explicar por que gostei apesar dos diálogos (rasos, clichê), do roteiro esquizofrênico, das cenas de ação que parecem de desenho animado da década de 80 do século passado.

Mas terei que fazer spoilers. Lamento. Pelo menos tentarei não dar os principais, mas fica o aviso: não continue se quiser ver o filme sem saber o que acontece.

O que é (muito) ruim

A primeira coisa que notamos é que a trama demora muito antes de chegar na ação. Não teria problema se fosse um filme de ficção científica mais voltado para o drama, só que, só bem depois da metade do filme se lembram que querem atingir uma plateia adolescente e correm para criar uma sequência de ação. Fica horrível. É quase como dois filmes em um.

Para piorar a sequência de ação, além de corrida, é muito ruim. Não os efeitos, esses até que são bons, mas temos aquele momento todo-mundo-quase-morto-mentira-estamos-ótimos que vem do nada e boom! vilão derrotado.

Os furos de roteiro são extensos. Dois exemplos:

  • A ação final ocorre em uma base ultra secreta e distante, mas, subitamente, tem uma rodovia ao lado com um mega-engarrafamento para ter carros e pessoas para serem sugadas para o fim do mundo;
  • Depois de milhares de pessoas verem uma cratera do tamanho de uma pequena cidade ser sugada por um facho de luz que ia para o espaço e os quatro heróis surgirem dos céus em chamas e numa esfera de energia ouvimos a frase “vocês salvaram o mundo, mas ninguém sabe”.

Victor Von Doom, um dos vilões com melhor história de vida dos quadrinhos vira um tipo de hacker que não gosta de conviver com pessoas e repete aquela ladainha do “A humanidade é o mal da Terra, o planeta ficará melhor sem ela”.

Os roteiristas, aliás, não se decidem se Victor tem ou não uma atração pela Sue. Numa cena ele parece profundamente enciumado e, segundos depois, desiste da ideia totalmente.

A mesma coisa acontece com a dificuldade de auto-aceitação de Ben, o Coisa. Chegam a ensaiar um momento “olhe como fiquei, sou uma coisa e nenhum humano me aceitará”, mas isso passa antes de começar de verdade.

Enfim, parece um filme feito de qualquer jeito, como se tivessem tentado recheá-lo com um pouco de tudo e acabou ficando quase nada de muita coisa.

Os fãs do Quarteto, muito provavelmente, vão odiar.

Então como pude gostar?

Bem, em primeiro lugar é menos ruim do que a origem anterior. Até aí nenhum grande mérito pois seria difícil fazer algo pior do que aquilo, mas me importo com a direção do movimento das coisas e o Quarteto Fantástico parece ir no sentido de se tornar mais elaborado.

Trata-se então de uma vaga esperança para o futuro do grupo, mas isso não basta para dizer “gostei”.

O que realmente me agradou foi ver, logo no começo, que Reed e Ben são de famílias desajustadas. Crianças lutando para encontrar seu lugar em um mundo que não dá valor a pensamento autônomo.

Isso não chega a ser bem explorado, mas já me quebrou um pouco.

Logo depois percebemos que o filho adotivo entre Sue e Johny é justamente o filho “bom” e que o desajustado é o filho não adotado. Isso pode até ser fruto de alguma fria reunião executiva onde alguém lembrou do problema que deu quando fizeram a piada com Loki, mas gostei da forma como foi apresentado.

A propósito, o golpe final para conquistar a minha simpatia foi terem feito da Sue uma cientista e não um objeto sexual como geralmente cabe às mulheres. Ok. Isso também pode ser fruto de uma fria reunião executiva, mas me convenceu.

Mais uma coisa: nenhum deles carrega aquela beleza padrão Hollywood e parecem pessoas mais reais o que vejo como mais um sinal de que há esperança para o futuro da equipe.

No final das contas eu gostei porque fui para ver um filme divertido e sem qualquer atrativo e encontrei essas surpresas que me agradaram. Poderia ser um ótimo filme se a ação fosse distribuída ao longo da história e mais bem escrita. Do jeito que foi era melhor ter acabado quando Victor retorna à cena depois de um ano perdido na dimensão misteriosa.

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