Me perguntaram isso num papo no Facebook. No contesto da conversa o sentido não era de desenvolvimento humano, mas sim de continuarmos a perseguir o desenvolvimento científico e tecnológico exponencial que nos trouxe até o ponto em que estamos de esgotamento dos recursos do planeta e de interferência na evolução climática da Terra.

Muitas pessoas boas tem optado por uma vida simples, que deixe a menor pegada de carbono possível na esperança de permitir ao planeta que ele se regenere e acho que essas pessoas estão entre os melhores humanos desse século ainda que eu não seja um deles (ou outro tipo de “melhor humano desse século” hehehehe).

A questão é que, talvez, e até provavelmente, todos teremos que adotar vidas mais simples, que não sejamos consumistas de átomos e sim de informações (científicas, culturais, artísticas) já que provavelmente a sede pelo estimulo mental ou intelectual é parte da nossa natureza como nos provoca muito bem Gaarder em Maya. No entanto isso não acontecerá enquanto não formos obrigados pelas circunstâncias e também, até onde podemos perceber, não seria o suficiente.

Mesmo que todos os 7 bilhões de pessoas que vivem hoje abrissem mão do que tem ou do que podem ter (temos que lembrar que mais da metade da humanidade vive com uma pegada de carbono até abaixo da necessária) ainda assim a Terra seguiria com as transformações em curso e poderíamos nos ver no quadro que encontramos no começo de Interstellar.

Bem, acho que isso basta para introduzir a resposta que dei no Facebook e achei que valia a pena copiar para um lugar onde não se perca:

A gente precisa separar pelo menos duas abordagens para o desenvolvimento científico e tecnológico pelo aspecto ecológico.

Tem uma vertente muito pequena (mais ou menos os tais 3%) que querem continuar no caminho atual de usinas e motores de combustível fóssil e produtos derivados.

A outra vertente (os 97%) alertam para o limite de 1/5 das nossas reservas fósseis: se usarmos mais que isso podemos chegar a um ponto sem retorno.

As soluções desse grupo envolvem o desenvolvimento de reatores de fusão e outras formas de energia limpa e renovável como parte da solução além de tecnologias de recaptura do carbono, biotecnologia (tanto para nos alimentar quanto para despoluir e capturar carbono) supercondutores (para otimizar transporte, comunicação e transmissão de energia).

Ninguém sugere retornarmos a uma forma de vida simples e que não interfira com o meio ambiente principalmente porque:

  1. Já estamos num ponto que não basta não interferir, temos que desenvolver tecnologias para recuperar
  2. Como poderíamos convencer 7 bilhões de pessoas a abrir mão das possibilidades modernas? E não falamos só de conforto e sim da Internet que nos permite nos mobilizarmos cada vez melhor, tecnologias médicas que salvam vidas etc

Com ou sem a nossa interferência a Terra um dia deixará de ser habitável pelas formas de vida atuais. Estamos acostumados a uma visão um tanto arrogante de que a Terra foi feita para nós, no entanto isso simplesmente não é verdade. Se gostamos da forma de vida que existem hoje temos que descobrir como impedir que a Terra mude ou como podemos deixá-la no futuro.

Para tudo isso temos que desenvolver nossos conhecimentos científicos e tecnológicos. Por isso provavelmente quase 100% dos cientistas serão defensores do desenvolvimento. Mas espero que quase ninguém seja contrário a que tenhamos uma vida simples voluntariamente.

Fonte da imagem: desconheço, se alguém souber, por favor, me avise.