Não faz muito tempo, uns 200 anos no máximo, e não havia carros, somente cavalos! Visitar um amigo na cidade vizinha era aventura para os jovens e de boa saúde! Os quarenta anos já eram naturalmente acompanhados de pronomes pomposos: senhor, doutor…

Nossas paredes agora nos protegem melhor do frio, nossas roupas esquentam mais e molham menos. Carros mais rápidos e ruas de asfalto garantem viagens suaves até para os novos senhores que só aparecem depois dos sessenta!

O conforto no entanto se acostuma aos edredons (originalmente eider downs – feitos com as penas do peito de passarinhos conhecidos como Eider, acredite) e à imagem e sons digitais dos modernos DVDs.

Gente corajosa e destemida ainda sai às ruas cruzando o a chuva, o frio e o vento! Ah! O vento que torna inúteis todos os esforços das modernas roupas impermeáveis! Saem e desafiam os paquidérmicos ônibus que sacolejam mal humorados fazendo meia hora de viagem parecer tempo demais! E como estes bravos vagaram hoje pelas ruas frias! Um casal cheio de calor no meio dos ventos gelados, tudo por uma boa sessão de filmes enroscados em edredons sintéticos!

Já prontos para metamorfose de tão encasulados, prontos em espírito e roupas para dormir em breve, toca o telefone! Um amigo; destes que se perdem no meio de agendas tiranas ou vitimas dos próprios monstros interiores que nos fazem crer que não temos tempo para nós mesmos, para as coisas simples da vida e para as mais valiosas como amizades sinceras ou momentos de contemplação dos rítmos da vida.

Somente a cada um de nós cabe realmente saber o que nos leva a nos perder desta forma, assim, recolhendo toda a nossa força de vontade, desafiando o frio e a água que insistia em se precipitar do céu nos livramos do calor aconchegante das cobertas e fomos encontrar outro calor melhor! O da companhia de bons amigos! Mas confesso que não foi com pouco esforço! É assim mesmo! Entre os confortos modernos se não nos esforçamos acabamos presos em jaulas disfarçadas com o cetim da TV a cabo, dos colchões de mola, da internet (e sua ilusão de companhia).