Desculpe pelo péssimo título do post, estou sem paciência para fazer um bom título, então explico o caso nos dois parágrafos abaixo.

“Meu filho, quero dar um computador para o filho de 11 anos de uma amiga que passou em 1º lugar para a sexta série e adora engenharia civil”. Resumi a mensagem da minha mãe.

Pela imagem que ilustra o post já dá para desconfiar qual foi a minha recomendação, né? Livros!

Mas, veja bem, estou longe de ser tecnofóbico, muito pelo contrário! Acho que crianças devem ser apresentadas à tecnologia bem antes dos 11 anos. A questão é como essa apresentação será feita.

O que uma jovem pessoa de 11 anos fará por si só com um computador em mãos?

Minha mãe achou que poderia pesquisar no Google (já acho ruim. Hoje um buscador como o DuckDuckGo não só é mais eficiente como é menos tóxico), mas, que seja, pesquise onde quiser sobre história da arquitetura ou da construção civil e veja a qualidade do que virá.

A questão nem é que os buscadores são ruins, mas ainda estão longe de se equiparar a uma curadoria humana de conteúdo.

O primeiro passo em qualquer estudo é ter uma visão geral da área a partir de onde podemos nos aprofundar, aí sim, buscando mais sobre nomes de estilos (dórico, jônico etc), especialistas e construções que se destacaram na história.

Uma preocupação que não podemos ignorar é que computadores e celulares são portas abertas para um mundo praticamente infinito, e olha que critico muito o alarmismo contra os “dilemas das redes sociais“, ainda assim, da mesma forma que ninguém responsável deixaria uma pessoa de 11 anos de idade à noite numa região erma da cidade, também não podemos deixá-la abandonada online.

Dar uma porta de entrada para a Internet a uma criança é um pouco como dar um kit de química, só que bem mais delicado pois vai demandar a mobilização de pessoas mais ambientadas com o assunto, podem ser os pais, irmãos, tios ou tias. Percebe que não é um presente para se dar sem combinar com a família?

Temos que pensar “o que essa ferramenta oferecerá para a jovem pessoa futura engenheira civil? É a melhor ferramenta para ela?” e duvido que um notebook, celular ou tablet seja a melhor ferramenta. Pode até ser ruim ao interferir no aprendizado da matemática se a criança decidir usar planilhas eletrônicas ou no desenvolvimento da habilidade para desenhar.

Talvez a criança já demonstre aptidão e interesse por programação, por computação gráfica ou até por cinema. Muitos cineastas começaram ainda crianças com filmadoras que ganharam (nesse caso um celular pode ser um bom presente).

Percebi agora que o que mais me alarmou foi a ideia de que dar uma ferramenta é A grande ideia. Existe um certo culto às ferramentas.

Nossa primeira ferramenta é a nossa mente e nosso conhecimento e, sempre que formos entregar “um peixe” a alguém devemos nos perguntar se não seria melhor conversar com a pessoa sobre pescaria. Desde que ela não esteja faminta, claro. A propósito no começo da pandemia dei dicas de marca e configuração de notebook para crianças, mas sem isso elas simplesmente não poderiam estudar. Agora estamos em uma fase da pandemia em que não deve mais ser necessário fechar escolas e volto a sugerir que o tempo de estudo da criança seja mais fora dos dispositivos digitais do que neles.

Recapitulando…

Quando devo dar um notebook, computador, tablet ou celular para uma criança?

  • Pergunte-se (e à criança) o que ela poderá fazer com aquela ferramenta. Como ela poderá usá-la para desenvolver suas habilidades e conhecimento comparado com outras ferramentas;
  • Tem pessoas com experiência em vida online para conversar com a criança sobre privacidade, anonimato, algoritmos de buscadores e redes sociais (incluindo especialmente YouTube e TikTok)?
  • Ela está desenvolvendo projetos que só podem ser feitos nessas ferramentas? Como programação, computação gráfica, produção de texto (tenho amigues que tinham blog aos seis anos de idade, mas os pais acompanhavam de perto) etc?
  • Tem maturidade para lidar com as pressões sociais nas redes? Para interpretar fakenews? Vai respeitar as orientações de contar se algo estranho acontecer?

Nós já nos acostumamos com a Internet como se fosse uma coisa comum. “Todas as crianças tem celular na turminha”. No entanto a Internet é como um lugar e não é uma cidade, é um vasto continente ou até mesmo “outro planeta” onde tudo se transforma muito rápido, tudo está em movimento… Me lembro agora do caso (hipotético, creio) da menina que foi proibida pelos pais de entrar no Twitter e lhe tiraram primeiro o celular, depois o gameboy e chegou a um ponto em que ela estava twitando da geladeira!

As ferramentas digitais, a Internet e as redes sociais são, penso eu, inevitáveis, mas temos que nos perguntar como estamos expondo nossas crianças a elas.

Minhas recomendações para o jovem futuro engenheiro civil:

Engenharia civil não é minha área, então fui pesquisar, né? Achei que encontraria algo bem legal na Tashen, mas não achei e além disso acho que são todos em inglês, né?

Lembrei da coleção “Tudo sobre” da Sextante e encontrei esse:

  • Tudo sobre Arquitetura: Abrange “desde o Neolítico até os dias de hoje… das casas de sapé às catedrais, dos arranha-céus às pirâmides”

Que, aliás, acho que vou comprar para mim!

Descobri também uma série em quatro volumes que não conhecia, mas certamente serve como um roteiro de aprendizado:

  • História das construções
    • Volume 1: Da pedra lascada às Pirâmides de Dahchur
    • Volume 2: Das grandes Pirâmides de Gisé ao templo de Medinet Habu
    • Volume 3: Das construções olmecas, no México, às revelações de Pompeia
    • Volume 4: Do Panteão de Roma ao Panteão de Paris

Sei que parecem indicações meio exageradas, mas primeiro que nunca subestimo as pessoas, segundo que teve livro que comecei a tentar ler aos 11 anos e só alguns anos consegui explorar melhor. Esse processo de passar anos explorando uma fonte de conhecimento é fascinante!

Em todo caso achei um mais para criança, que nem é bem um livro, mas um kit de construção prática! Parece muito legal!

Foto de capa por Ryunosuke Kikuno no Unsplash