É mentira que a esperança é a última que morre. Tem vezes que ela morre e ainda restam força, determinação, senso de dever, rastros na memória dos que nos conheceram e lições aprendidas e a aprender. Depois que morre a esperança ainda persiste a vida.
Pode ser estranho começar assim o post onde conto que a nossa esperança de cura para as nossas cadelinhas não morreu, mas enfraqueceu muito diante da dor que elas sentiam enquanto combatiam a cinomose.
As chances de sobrevivência eram ínfimas, as de sérias sequelas eram enormes e o sofrimento da fase neurológica da cinomose em cadelas com menos de 3 meses é terrível.
Para quem chegou aqui procurando por cinomose informo que ela, a princípio, passa de um cão para outro pelo espirro, mas todo cuidado é pouco. Tivemos mais cuidados do que a maioria das pessoas. As nossas cadelinhas ficaram em um quarto lavado várias vezes por dia até tomar a vacina, não tiveram contato com cães além do pai e da mãe. Ao chegar em casa os pais sempre lavam as patas e o focinho. Só podemos imaginar que alguma secreção contaminada chegou a elas em nossos sapatos ou em uma parte não lavada do pai (que brincava muito com elas) portanto sugiro que não entrem de sapatos no lugar onde ficarem filhotes pequenos e que se passe nos cães que entrem em contato eles um paninho umedecido com algum produto capaz de matar estes virus. Creio que dificilmente um filhote de menos de 3 meses sobreviva a uma contaminação com cinomose.
Esquece o parágrafo acima, creio que a Natasha solucionou o mistério. Existe documentação veterinária mostrando que a mãe que teve cinomose (e alguns cães passam pela doença sem que os donos percebam) pode se tornar contagiosa no período logo após o parto pois as defesas do organismo dela se enfraquecem.
Nos primeiros 45 dias os filhotes ainda tem anticorpos da mãe, mas depois eles vão sumindo e os filhotes só estão plenamente aptos a produzir anticorpos com 120 dias.
Então, volto a dizer, se você veio aqui com a preocupação dos seus filhotes pegarem cinomose e você não tem certeza que a mãe não teve (a nossa veio para nós já com 3 anos e sem o histórico médico) a doença então o aconselhável é que você adiante a vacina múltipla aplicando a primeira aos 30 dias em vez de fazê-lo aos 45.
Passei as 48 horas anteriores à nossa decisão ajudando-as a superar cada crise convulsiva. Foram 48 horas dormindo em fragmentos de 15 a 30 minutos exceto pela hora e meia que apaguei hoje de madrugada (entre 2 e 4 da manhã).
Temos certeza de ter feito tudo que era possível. Fomos capazes de superar as fases digestivas e respiratórias da doença, mas nem altas doses de Gardenal estavam amenizando as convulsões da fase neurológica.
Apesar das dificuldades para comer e para se aliviar e das sequelas que já dava para antever elas foram o tempo todo amorosas e carinhosas como só os bons donos de cão sabem que um cão pode ser.
Este post ia dar a notícia de várias formas, uma no estilo jornalístico, uma poética, uma no estilo das sagas imortais (Paraíso Perdido, Odisséia etc.), mas isso terá que ficar para outra ocasião. Achei que seria bom fazer assim para ajudar a superar a dor, mas eu estava errado.
Aproveito para agradecer a todos que nos ajudaram e apoiaram nesse período, principalmente ao Guigo para quem eu não ligava fazia uns 10 anos, à Natasha (pouca gente reúne amor e competência veterinária como ela), às meninas do Bicho Bacana que são as nossas veterinárias desde o nosso primeiro cachorro, à Miriam que nos trouxe um pouco de luz na hora mais escura e, claro, aos amigos que deixaram comentários, ligaram ou falaram conosco.
Agora é deixar o tempo minimizar esta pontada de dor e alimentar todas as boas memórias que ficarão para sempre destes dois meses e meio que valeram por uma vida.
:-X
Lamento meu amigo…
Obrigado pela fora Ramon…