“É… Nada mudou nos últimos dez mil anos…”
A frase me pega de surpresa enquanto estou esperando o sinal abrir numa esquina sem importância de Botafogo. O tom da voz é inconfundível, a silhueta que vejo de soslaio só vem a confirmar: É ele novamente, o irônico Gato de Botas.
A verdade é que gosto da sua forma ácida, direta e límpida de ver nossa nobre civilização que, se por um lado cria obras fantásticas e conhecimentos surpreendentes, por outro se debate no medo atávico do fogo e do trovão…
– Como assim nada mudou, amigo? Em dez mil anos?!?! Tudo mudou, não acha? Direitos humanos, ciência, filosofia…
Ele caminha ao meu lado com tamanha habilidade e sutileza que se confunde com as sombras das copas das árvores e dos edifícios. Somente com uma dose generosa de delírio e muita atenção para ver aquela pequena criatura e seu enorme chapéu de mosqueteiro.
– Tá… Desta vez vou te dar alguma razão, mas a essência não mudou muito, né? Vocês estão mais educadinhos, mas continuam a brigar com aquelas velhas vespas que os expulsaram das árvores… Acho que no fundo vocês continuam querendo é voltar para lá!