Toco na areia os pés descalços mal lembrando a sensação da areia e totalmente esquecido da magia do mar alimentado pela expectativa e fé de tantos milhões que vem entregar-lhe seus sonhos e descarregar o passado indesejado.

Enquanto os braços gelados do mar cobrem meus pés e apagam minhas pegadas a areia cede sob meus passos. Sigo pesado, deixando para trás pegadas, passos e muito mais! Anos passados, certezas caducas, reflexos distorcidos. Logo estou leve e vazio, nas águas do mar tudo que fui e todas as possibilidades do vir a ser… Pintura Viva.

Noite, as luzes amareladas dos postes invocam a luminosidade do entardecer aos primeiros minutos do novo ano. As árvores assistem silenciosas a procissão que segue sob suas copas em pequenos grupos buscando suas camas ou a próxima festa. Árvores enquadradas em pequenos cortes nas calçadas cimentadas, ávores envazadas…

À beirada de uma delas, na pequena mureta de cimento, senta-se, a muleta cruzada sobre as pernas esticadas, magras, a pele quase colada no osso, a cabeça inclinada para baixo olhando para o próprio cotovelo com os olhos fechados. Nas mãos uma caixinha de fósforos agitada com suavidade no ritmo de algum samba esquecido, ao redor apenas as sombras, mas brumas que tornam o mundo invisível para ele que mergulha em sua própria eternidade.

A triste figura do engenhoso fidalgo para uns, a alegria pura do cartola para outros…