Ela baixa os olhos para o chão e a luz parece fugir do seu rosto: seu peito é um faminto buraco negro sem luz que devora sua alegria.
Agora ela está sentada sozinha em uma mesa de quatro lugares no McDonald’s, mas ainda há pouco estava com uma amiga que agora segue pela rua para um compromisso que não podia adiar, nem mesmo para tentar preencher o vazio da amiga.
O dia das duas será um pesadelo… Não importa o céu lá fora, as boas notícias de trabalho, os amigos fiéis que as duas colecionaram em seus poucos anos de vida e nem mesmo a amizade pura que as une desde criança.
Ela, a moça solitária ali na mesa, tem a sorte de conhecer seu vazio. Muitos de nós conseguem preenchê-lo com falsos amores, uma vida superficial cheia de festas ou de coisas caras, delírios de poder… Nossa! Como há delírios de poder…
Mas a moça ali simplesmente se apaga, deixa uma lágrima desenhar a geografia da sua dor na bochecha rosada e não se importa quando ela cai sobre as batatas-fritas.
Já no ônibus a amiga se embola em seus sentimentos, uma perna de culpa por ter sido meio dura na observação sobre o defeito da amiga, um braço de autodefesa, afinal fez tudo com a melhor das intenções, e com carinho! Mais uns três braços e quatro pernas de amores, raivas, arrependimentos e insatisfações (porque ela não podia se atrasar para o trabalho, droga?) completavam o corpo sem cabeça dos seus sentimentos, aliás, sem pés também já que ela não sabe para onde ir.
Assim somos muitos de nós… Basta que os nossos objetivos, sonhos, desejos e, principalmente, determinação, não sejam o bastante para nos indicar um caminho: fica tudo vazio e basta um tropeço para a luz fugir de nós…
Imagem: Torley