Advertências

  • Essa é uma crônica sobre amor e amizade e em algum momento fala em sexo. Se falasse em casais psicopatas que matam os filhos ou em ódio contra criminosos qualquer um poderia ler, mas como toca em sexo a moral vigente me obriga a avisar que há conteúdo adulto e você não deve ler se for menor de idade
  • Apesar de não aprovar o uso de drogas alguns personagens dessa crônica as usa e não cabe a mim impedi-los, mas esse é outro tabu que me obriga a desestimular os jovens a continuar a leitura. Se em vez de droga eu falasse sobre seus amigos irem para o inferno por não aceitarem essa ou aquela divindade tudo estaria certo
  • Finalmente aviso que essa é uma obra ficcional e qualquer semelhança com a realidade é porque a realidade é moldada assim mesmo: nasce e se desenvolve na ficção e, de vez em quando, se torna real de outras formas

A primeira noite de Marianna e ele

Ela está atrasada e o telefone está fora de área. Eles tinham combinado de ir juntos a um evento no hotel Glória e depois entrar pela madrugada juntos na casa dela.

Eles tem vinte e bem poucos anos, são independentes, trabalham, moram sozinhos e estão profundamente apaixonados, mas essa será a primeira noite juntos e livres para se curtirem.

Ela mora no quinto andar de um prédio sem elevador, com corredores bem iluminados, paredes de madeira clara, apartamentos com uma sala grande, um quarto e uma cozinha.

Ele vai até lá cheio de expectativas, leve e feliz porque sabe que nada nela pode magoá-lo assim como ele jamais a magoaria. Um atraso é apenas um atraso e de qualquer jeito a noite será linda para os dois.

Chegando ao andar ele abre a porta do apartamento dela (ela e os vizinhos não trancam suas portas), vê a mesa arrumada com velas e outros itens românticos e sorri com a preocupação em fazer uma noite especial. Ela deve ter ido comprar vinho…

Ele dá um pulo no apartamento vizinho para ver se ela está com as duas vizinhas. Ele percebe que as duas estão no quarto namorando e se vira para não interromper, mas ao ouvir o ruído de alguém entrando elas o chamam, ele vai até lá, coloca apenas o rosto para dentro e elas lhe dizem que o evento no hotel foi cancelado, mas Marianna não pôde avisar porque o telefone dele não estava funcionando e que ela estava aprontando o apartamento para eles dois nervosíssima para criar uma noite perfeita.

As duas são um pouco mais velhas que ele e Marianna. Estão juntas desde sempre, são o tipo de casal modelo e amigas com quem nos sentimos totalmente a vontade. Eles ficam ali conversando um pouco sobre trivialidades. Ele nota o olho vermelho das duas, um pouco pelo sono, um pouco pela maconha que fumaram.

Eles escutam barulho no apê da Marianna. Ela chegou! Coisas caem e solta algum palavrão. Mesmo sabendo que as noites deles dois sempre são perfeitas, sem palavras não ditas, sentimentos escondidos ou intenções não reveladas pois a amizade deles sempre foi transparente como cristal, ela se irrita pois queria uma noite com coisas perfeitas.

Antes que ele possa ir ajudá-la ela atravessa a porta das vizinhas e ao vê-lo abre um grande sorriso. Nossa… Como o sorriso dela é lindo! Seus cabelos encaracolados e longos emolduram um rosto redondo. Os olhos dele se perdem nas curvas generosas do corpo moreno dela, ligeiramente gordinho, com pernas grossas e perfume inconfundível. Ela provavelmente pensa o mesmo dele a julgar pela forma como seus olhinhos brilham. Os dois se despedem das amigas e vão para a penumbra da sala de Marianna.

Sem perceber como, já estão praticamente sem roupas, se beijando enquanto caminham até um divã que fica no lado direito da sala. É uma noite quente e os beijos são salgados como se tivessem ido à praia e os dois ainda tivessem o agradável cheiro do sol.

Sentados no divã lábios, mãos e línguas exploram os corpos cheios de desejo de formas que as palavras não conseguem descrever e que os próprios sentidos confundem. Ele sente a mão firme dela apertá-lo com desejo enquanto a boca delicada brinca com seus mamilos, os dela também deslizam para dentro da sua boca… Ela desce e ele se sente envolver por uma suavidade que não esperava nos lábios de nenhuma mulher, é como se uma nuvem morna o engolisse. Suas mãos também deslizam pelo corpo dela até chegar entre as coxas grossas, macias e morenas.

Eles estão tontos, apaixonados, mareados de amor e desejo. São pessoas de sorte por viver em um mundo de amizades e amores livres de jogos onde as pessoas aprenderam a só se relacionar com quem se sentem à vontade.

No entanto ela não afasta as pernas para que sua mão possa deslizar mais. Os dois ainda se beijam em êxtase, mas escutam no pensamento um do outro que ainda não é o momento.

Ele tem outra mulher, os dois sabem. Uma mulher que ele ama apesar de ser imperfeita. Uma mulher que ela também ama como amiga.

O amor deles dois é puro e pleno, mas não pode se realizar. Ela sempre estará ali para ele, dentro dos pensamentos dele assim como ele existe nos pensamentos dela.

Eles se olham embevecidos de amor e compreensão mútua. Os olhos sorriem, os corpos suados ainda se mesclam, mas ambos sabem que ela é um sonho e logo ele acordará.

Ela é um sonho, mas é real. Seu sorriso, a maciez do seu corpo, o cuidado perfeccionista com que cuida das coisas, o jeito como ouve os amigos que precisam de ajuda (sem julgar e muito menos condenar), os sonhos para o futuro da carreira em marketing e relações internacionais, o futuro com ele… Tudo isso é tão real quanto todas as outras criações do espírito humano.

Em algum lugar ela e ele existem. Seguem seus caminhos livres para viver os pequenos e os grandes desafios, mas sempre estarão juntos e talvez o ele sonhador e a ela que dorme ao seu lado um dia os conheçam e possam compartilhar com eles a mesma amizade…

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