“Esse é o Antonio gente, ele foi um dos primeiros a vir para cá”

O Antonio cumprimenta um pouco timidamente os outros e pega um suco para beber.

Cada um ali vinha de um lugar, Rússia, algum daqueles pequenos países da África, Bali e tinha até um brasileiro como o Antonio. Todos da Terra e curiosos a respeito daquele novo mundo que o Antonio foi um dos que ajudaram a desbravar e colonizar.

Aliás colonizar não é bem o termo, aquele mundo foi praticamente todo moldado por nós, humanos.

Papo de mesa de bar é naturalmente caótico. Falou-se de mulher, dos últimos escândalos políticos, de economia e de cinema. Vez por outra surgia um papo paralelo quando alguns descobriam fazer parte da mesma tribo de ficção científica, fantasia ou trabalho. Antonio teve que se afastar por alguns minutos para atender um cliente que o chamou pelo comunicador (já não há mais telefones).

Quando ele voltou respondeu aos olhares curiosos “É, mais um querendo se estabelecer aqui, já providenciei a reserva de espaço”.

Esse é o trabalho do Antonio, ele é um tipo de construtor de espaços no Novo Mundo, mas nem todos conseguem se adaptar e acabam voltando à Terra.

Por um tempo o papo se desvia para as aventuras dos que se lançam à empreitada de construir um outro mundo.

Antonio já havia trabalhado na Terra por muitos anos, a maior parte do tempo atrás de uma mesa no escritório de uma multinacional como a maioria das pessoas da classe econômica dele, mas agora até as classes D e E estavam sendo atraídas para fora da Terra.

Um dia ele teve azar, a multinacional se retirou do país dele deixando-o à beira da falência, mas isso depois se mostrou positivo afinal ele já não tinha nada a perder então arriscou deixar a Terra. 

Afinal o trabalho no velho mundo praticamente cheirava a estagnação e mofo, como os nobres cobertos de pó branco dos tempos do mercantilismo e quem não desejava deixar a Terra e se lançar nas vastas cidades que se estendiam ao redor deles enquanto conversavam.

É claro que não havia uma fórmula para dar certo naquele lugar, o segredo lá era ter ideias, algum tipo de conteúdo que chamasse a atenção de alguma das infindáveis tribos que transitavam por lá, no entanto o conceito de conteúdo é muito relativo quando mesmo pequenas tribos contam com centenas de milhares de participantes.

No final do papo – ainda era dia, o sol iria se por em uma ou duas horas – Antonio disse que tinha que ir e se levantou pensando que talvez existisse um segredo para se dar bem lá: mergulhar de cabeça como quem resolve deixar a velha vida para trás e criar uma nova realidade.

Ele desligou o monitor, abriu a porta saindo do cyberespaço e voltando à Terra para dar um passeio no jardim da sua casa em uma cidade do interior de um país qualquer.