Quem sou eu, que mal tenho 50 anos , para torcer o nariz para séculos de costumes? Quem sou eu para não suportar o dia em que mentimos uns para os outros muitas vezes com o prazer perverso de deixar o outro desconcertado?

– Você é muito amargo…

Quando eu achava que ele me deixaria em paz, depois de anos, o Gato de Botas ressurge enquanto estou escrevendo um post. Sentado do meu lado onde há um segundo só havia um notebook e uma caixa de som. Cadê aquele emogi olhando de esguela? Aliás, ainda se olha de esguela ou agora se olha de lado?

– EU sou amargo? EU? As pessoas eternizam um hábito medieval que só pode ter origens perversas e eu sou amargo? Já imagino que você vai dizer que é a versão humana dos jogos de poder que outros animais fazem se escondendo uns dos outros o coisa assim, mas já faz um tempo que somos animais um pouco diferentes dos outros, né?

– Bem… Do seu ponto de vista… Para nós, Felinus Trancendum, vocês todos parecem bem infantis e esses joguinhos são fofos. Acabei de pregar uma peça em um certo urso e uma pantera negra.

O Gato é um velho… Conhecido? Uma alucinação que insiste que é real, que nós humanos é que não vemos as coisas que nos incomodam ou que não encaixam em nossa visão de realidade. Quando penso em terraplanistas e defensores do governo lunático eleito no fim do ano passado e seus delírios me sinto tentado e concordar.

Um amigo mandou uma imagem por WhatsApp, uma ironia com os ditos e desditos do presidente que acusa os próprios vídeos antigos de mentirosos. Eu disse, é um governo delirante.

Penso que seria justo que mudassem o dia dos bobos para o dia dos robôs políticos ou dos corruptos lunáticos. Tenho vontade de fazer essa manifestação solitária daqui para frente, mas duvido que a gente deixe de tirar esse dia para humilhar os supostos amigos e aliás, nesse momento aquele filme, The Purge (Uma noite de crime), já não parece tão inverossímil.

É… Talvez seja para isso que serve o dia dos tolos, para humilhar em vez de espancar as pessoas com quem gostaríamos de não conviver.

– Como eu disse… Amargo! Meu rapaz! A vida não é tão séria assim! Olha bem à volta que você verá que algumas vezes é um expurgo de tensões afogadas sim, mas muitas outras vezes, talvez mais vezes, é apenas um dia de alívio cômico. Você tem um bocado a aprender com os humanos, viu? De vez em quando você esquece que é um deles e isso é de uma arrogância bem fedorentinha, viu? Me lembra o cheiro daquela igreja no Flamengo onde Cérbero dorme, lembra? Você morou ao lado.

Dizem que amigos são aqueles que nos dizem as coisas que não gostamos de ouvir, mas precisamos porque nos desconectam da realidade, dos outros ou de nós mesmos. Coisas que não nos fazem qualquer bem e ainda nos fazem mal, embotam as cores do mundo.

O Gato de Botas no entanto poderia me deixar escrever sozinho no meu blog, não acha? Fazer um papel bonito, me sentir especial e poderoso em vez de um ser amargo e mesquinho achando que pode consertar o mundo tornando o em um céu de nuvens suaves e mornas onde anjos tocam suas armas, digo harpas, as coisas andam meio estranhas ultimamente.

Seja como for já me acostumei a ser o amigo que é um porto seguro para quem não recebe bem esse espírito zombeteiro do primeiro de abril, em geral porque, como eu, caem em algum dos estereótipos segregados e diminuídos seja pela história de vida, aparência física ou simplesmente por seus gostos.

Uns se fortalecem e não sofrem hoje; outros cresceram em famílias e vizinhanças mais saudáveis e sequer sofrem com as chacotas… Ainda se fala chacota ou virou tudo sacanagem?

Enfim, doravante, ao menos para mim, hoje será o dia do lunático perverso, aquele que inventa anos dourados onde havia tortura, morte e injustiça social ou aquele que perpetua um sistema de crenças perverso contra mulheres, negros, diferentes gêneros ou tudo isso junto.

Esse ano o primeiro de abril para eles é a reversão do delírio deles cada vez mais fechado somente em suas salas reais e virtuais enquanto o mundo cada vez mais os vê pelo que são, lunáticos perversos e dignos até de pena.

Então vamos rir deles a risada dos puros de coração!!

– Melhorou, meu jovem, melhorou… Menos amargo agora! Que tal um chocolate quente? Conheço esse café secreto ali entre o vão de um prédio e uma árvore.

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