– Ah! Eu quero mesmo é um alien para vir ajudar a salvar este planeta!!

Ela se recosta na cadeira, olha para cima de onde as quatro lâmpadas do poste lançam sua luz amarelada sobre as mesas. Ninguém mais nota que a luz não é branca. As coisas ficam sombreadas ou com outras cores e nos acostumamos. Porque somos assim: nós nos acostumamos.

– Não sei se, caso uma outra civilização chegue aqui, nós estaríamos incluídos nessa salvação do planeta. Quem me garante que somos a raça mais promissora da Terra?

Olhares redondos e surpresos se voltam para mim. Maldito Gato de Botas que me faz de boneco de ventríloco para suas provocações!

“Mas não pode julgar um indivíduo pela raça”, “Pera ai, a gente tem uma história, nós estivemos aqui, mesmo desaparecendo da Terra…”, “…”. 

Ele, o Gato de Botas, se divertia com as interjeições, os comentários impacientes e até com um tipo de pena que parecia caminhar atrás do véu das palavras bem envernizadas. Enquanto isso sussurrava em meus ouvidos com sua voz sibilante.

“Engraçados vocês humanos… Mal fizeram umas caixinhas, uma linguagem simples e umas engrenagens e se sentem como seres superiores, mas, ao contrário de nós, precisam de roupas para o corpo e até para a alma que os protejam do mundo de verdade”.

Até agora não entendi o que ele queria dizer com isso.

Imagem: Camponeses numa taverna, Adrin Van Ostade