Um galo canta ao longe e uma brisa fresca entra pela varanda. É Madrugada e a grande metrópole assume ares de cidade do interior.

Quer dizer assumiria.

O grito de um jovem rebelde aqui ou ali, a sempre presente perspectiva do pipocar de uma arma rompendo o silêncio da noite e anunciando que lá no morro crianças se escondem sob suas camas com medo da bala perdida, o céu com estrelas ofuscadas pelas luzes amareladas da cidade e a falta do cheiro de mato nos lembram que esta é uma metrópole.

Só que um grilo canta, o latido de um cachorro vem sorrateiro junto com o frescor da noite de primavera. Ah! E tem as flores desabrochando, os chatos bichinhos de luz e o trinar de morcegos (morcego trina?).

Se parar para olhar a noite, seja na grande cidade, seja no meio do mato, o trabalho que nos deixa acordados até quase duas horas da manhã, as discussões políticas e o peso dos tempos desaparecem entre os sussurros do passado que nos cantam a música do esquecimento.

Não importa o quanto o presente seja importante, amanhã ele já passou e as razões e as tolices terão se perdido na massa do “movimento cultural característico daquele tempo”.