Tudo começou por causa disso. Ela tinha um vício.

Hoje em dia tudo pode e as pessoas se entregam a seus vícios na praia, na portaria do prédio e até em seus blogs para todo mundo ver. Tem todo tipo de vício.Tem químico, tem psicológico, alimentar, alcoólico e ideológico. Todos eles as pessoas praticam abertamente.

O dela era desses secretos que a gente pratica escondido no quarto e morre de vergonha quando descobrem.

Ela era totalmente viciada em livros. Em ler livros, fique bem entendido já que tem gente que só coleciona coisas sem jamais entendê-las. Ela entendia!

Amava o cheiro do papel e o barulho de quando o livro era folheado e cada livro que lia era um universo novo a ser descoberto e vivido.

Como toda boa viciada tinha as crises de abstinência! Ah! De vez em quando, enquanto as amigas vagavam pelas lojas no shopping ela dava um jeito de se desgarrar. Ia para uma livraria, caminhava entre as estantes cumprimentando as faces solenes dos velhos e novos compêndios de literatura, filosofia, história, romances e até umas bobeirinhas que divertem sem alienar.

Um dia sua síndrome de abstinência a levou até um lugar estranho. Quer dizer, era a livraria de sempre, mas uma mulher vestida de gata e outras pessoas fantasiadas de coelhos e outros bichos estavam lá. Elas cantavam para as crianças que se acumulavam ao redor. A gata a propósito era mãe de um tal Felipe Dylon.

A barulheira tão divertida para as crianças era quase insuportável para ela, mas era uma síndrome de abstinência das brabas! Ela precisava de livros e foi ficando lá!

Depois de um tempo a gente se adapta a praticamente qualquer coisa e foi o que aconteceu com ela até… Bem, pode parecer normal para muita gente, mas para aquela moça recém saída da adolescência e cheia de ideias de caminhar e cantar seguindo a canção de braços dados com ricos e pobres foi muito esquisito.

Lá no meio da multidão de crianças a Gata Dylon convidou as crianças a levantar o bracinho se quisesse ajudar a fazer um Brasil melhor.

Dezenas de braços curtinhos e fininhos se agitaram no ar.

Uns acordes de violão e os bichos todos começaram a cantar…

“Marcha soldado, cabeça de papel…”