Logo uma carreira de zeros anunciará o fim desse dia e a cidade deve continuar desperta lá fora pois cidades como essa não dormem antes da terceira hora da madrugada.

Jovens sedentos de emoções se esbarram em boates ou chegam de táxi bem perfumados prontos para chegar em casa junto com o sol amanhã.

Adultos saudosos das emoções adolescentes lançam olhares pateticamente sedutores para alvos com metade da sua idade.

Ignorando toda essa movimentação a cidade me entrega um silêncio sepulcral…

Não há ruídos de TV ou mesmo as luzes refletidas nas paredes. O culto religioso histérico está calado e nem mesmo do morro se ouve sinal de música ou de festa.

Sinto falta até mesmo dos berros fanáticos e fogos de artifício que saúdam times de futebol rivais.

A brisa fresca que atravessa a janela não me sussurra segredos ou a balbúrdia comum das ruas.

No silêncio da cidade sobrevivem apenas o latido casual de um cão, o ronco suave de um automóvel subindo a ladeira e o ruído de vozes que parecem se desprender das memórias que as paredes tem do dia que passou.

Por que a cidade dorme tão cedo? Quem abafou as gargantas insones deixando apenas ecos e um estranho chilrear de canário em plena noite? Será um presságio avisando que os mundos estão seguindo uma outra dança? Ou alguém está a caminho?