As paredes distantes ecoam os passos lentos que me levam para dentro do grande salão. Elas escondem segredos que ainda não consigo decifrar, atrás de mim vejo a entrada ainda tão próxima e ao longe sei que há uma saída que imagino escura e solitária, afinal dizem que no fim da travessia pelo salão da vida estamos todos sós…

Congelados, estáticos sob a luz que entra por janelas de vidro vejo as cenas da vida, estátuas sem movimento e sem som. As cenas que já foram, as que ainda virão e estas mesmas aqui do meu lado…

Em um bar dois bêbados, bocas abertas, vazias de som, maldizem suas famílias atribuindo-lhes as fontes de todos os seus problemas; num quarto solitário chora um menino pois alguém o vê como ele não acredita que é, do lado de fora da aula de balé uma menina entrega sua crítica mais sincera à amiga; entre as quatro paredes de um quarto iluminado pela frágil luz da lua um casal chora dividindo medos e dúvidas…

Olho com mais atenção e vejo, rompendo o silêncio estático, uma pessoa correndo a passos largos de volta à entrada e, quem diria! Sou eu berrando a todo pulmão para sair dali pois aquele é o salão errado e a vida corre solta lá fora onde as árvores murmuram sua música ao vento, os pássaros cantam para o sol, as crianças se sujam de terra no parque, as bailarinas apresentam sua melhor coreografia, o menino enxuga as lágrimas e abraça o melhor amigo enquanto os bêbados pedem desculpas às suas esposas!