A menina sentada na grade do metrô se move em câmera lenta enquanto o mundo gira freneticamente ao seu redor! Um mundo de passos nervosos, de ternos alinhados, mendigos fedorentos de cabelos desgrenhados, meninas colegiais de saias plissadas, garotos de rua – como ela – carregando suas caixas de engraxate, camelôs que seguram firmemente os cordões dos seus paraquedas, os membros da guarda civil que os assustam…

As imagens passam ao seu redor em borrões pincelados por Monet provocando um borbotão de sons abafados e caóticos. Deuses e demônios que deslizam sobre a Terra sem deixar marcas, somente borrões e sons.

No meio de tudo a pequena flor de lótus de cabelos castanhos esvoaçando lentamente como se ela, e apenas ela, estivesse mergulhada no mar das reflexões que não atinge os outros porque já ficaram velhos demais ou surdos demais.

Em algum lugar – ela sabe – Eleale, seu irmão, permanece preso reciclando papel e estudando informática, quem sabe um dia ela também…