“Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha a tua filosofia”
Hamlet – Willian Shakespeare
Horácio estava perplexo com a voz sobrenatural que brotava do chão, hoje já não há mais vozes no chão, nem mesmo o chão cru, de terra e grama, é facilmente visto pelos olhos distantes que vejo atravessarem a calçada enquanto procuro desfiar os nós da minha própria filosofia com um dos melhores pares de ouvidos prontos a escutar-me.
Nas histórias de cada rosto que passa, pode-se notar, há labuta diária pelo pão, decepções de amor, honras feridas, futilidade excessiva, pitadas discretas de reflexão sincera que é o sal dos espíritos elevados e generosas porções de dogmas religiosos que são o catchup que esconde o sabor de todas as questões essenciais.
E os rostos vagam acreditando em deuses que pervertem a pureza essencial dos humanos, na criação de pura harmonia e paz de um Deus caduco e na vitória do bem sobre o mal. E pensam assim apenas por ter tempo para ver, mas não para “pensar” o fungo que consome a árvore, o fogo espontâneo que consome florestas, a berne que se instala no animal desavisado ou a tempestade que afoga e arrasta a vida.