— Ah! Pura arte não acha?
“Arte? Onde?” penso olhando ao redor procurando algo no meio da rua cheia de carros, algumas árvores e centenas de pernas ansiosas que transportam pessoas de semblantes fechados. Nada! Não vejo nada!
— Onde você está vendo arte!? — Pergunto
— Olha ali, na esquina sentadinha…
As calçadas são cobertas de tijolos vermelhos que não levam a nenhum mago e nem caminham sobre ela uma menina, seu cão, um espantalho um leão e um homem de lata. Entretanto posso ver alguns pombos ciscando uma faixa de pão branco esfarelado, devia haver ali pelo menos umas três bisnagas grandes. Bem ao lado, como se fosse uma cornucópia de onde o pão jorrasse se sentava uma baiana vestida de panos brancos e com uma touca do mesmo tecido. Em seu colo a foto de algum santo ou divindade.
Negra como o asfalto logo atrás ela mantinha os olhinhos cerrados emoldurados por rugas que traçavam um mapa em seu rosto tranquilo. Parecia dormir, parecia parte da terra, como se fosse mais antiga que a cidade ao seu redor. É… era pura arte!