Era mais um desses dias estranhos que parecem ecoar. Sim! Ou será que nunca aconteceu contigo de sair logo de manhã para o trabalho e ter a impressão de que algo diferente na atmosfera fazia todos os sons chegarem meio abafados aos seus ouvidos? Como se estivessem ecoando em paredes invisíveis que te cercam por todos os lados?
Bem, muita gente tem a sorte de jamais perceber essas coisas, mas era um dia assim. Coisas estranhas ocorrem nestes dias.
Cheguei ao meu destino, era um desses edifícios estreitos e esmagados entre gigantes modernos. Tinha a portaria e um corredor lugrebemente extenso que sumia em uma curva mergulhando nas profundezas do quarteirão onde o prédio se mantinha de pé segurando cinco, talvez até sete décadas em suas colunas.
Ignorei o elevador social e, atraído por um medo sedutor, fui seguindo os ladrilhos marrons que exalavam um cheiro úmido e de mofo.
Lá no fundo eles mergulhavam num cubículo onde mal cabia a porta de um elevador de serviço. A propósito era uma porta empenada e mal fechada que não tinha como ser utilizada. Com certeza aquele elevador devia estar quebrado desde sempre! Mas tinha luz…
Olhei pela pequena grade e vi lá dentro um pequeno colchão, alguns livros (de filósofos) espalhados no chão, uma vela acesa e até um quadro numa das paredes, a pintura de um gato de Van Gogh…