O céu púrpura anuncia o fim da madrugada povoada de vultos que atravessavam a praça, uns ruidosos, outros furtivos, todos envoltos em seus assuntos imperscrutáveis sob a proteção da noite.

Quando os primeiros reflexos da manhã iluminam a terra clara já não restam vestígios das horas sombrias e as primeiras patas começam a deixar suas marcas guiando seus donos. Cachorros de todos os tamanhos fazem ali a parada no meio da sua jornada matinal. Alguns seguem soltos, outros com brinquedos coloridos e há os que caminham firmemente presos aos donos por guias coloridas.

Em um canto repousam as estruturas tubulares de brinquedos vazios e um parque para crianças. Em outro canto, esquecidas e úmidas, dezenas de mesinhas de concreto com tabuleiros gravados aguardam…

O sol continua seu trajeto e já alcança a casa das dez horas quando a praça é invadida por hordas de carrinhos de bebê, crianças na agitação dos quatro ou cinco anos, babás e umas poucas mães. É como se nunca tivesse havido cães ali, como se nunca uma sombra tivesse deitado sobre o chão marrom-vivo. As estruturas tubulares são paramentadas e se tornam camas elásticas, body jumps e tobogãs de ar. O parquinho sacode animadamente.

Mais uma vez o céu se tinge de púrpura pouco antes de anoitecer depois de uma tarde agitada e apenas algumas crianças já acima dos sete anos jogam bola com pais cansados, mas esforçados em dar um mundo de alegrias para os filhos. Um único cão intruso caminha timidamente entre eles, totalmente fora do seu ambiente. Antes de ir caminha entre as mesas-tabuleiro agora alegremente cercadas de homens rudes que não lhes levam peças de xadrez ou de damas, mas garrafas bem cheias de bebida e muito bate-papo enebriado.

Logo a noite mergulhará novamente sobre a terra marrom escura que murmura sob os pneus da rádio patrulha que a atravessa tão sorrateira quanto é possível a um veículo tão fora do seu habitat. As estátuas e esculturas se recolhem nas sombras guardando secretamente o calor das manhãs e das tardes, dos cães e dos bebês tão distantes quanto as estrelas solitárias que rasgam matreiras o véu de Nyx.