Desço pela rua coberta de bandeirinhas verdes e amarelas. Mais adiante cruzo a barraca onde os jovens que se drogam diariamente sob as marquises, arrecadam dinheiro para comprar, dizem, mais bandeirinhas, tinta e pincéis.
De cada lado da rua vejo os edifícios frios e janelas de apartamentos que parecem ter dormido antes mesmo da chegada do inverno: não há luzes, sons ou movimentos atrás dos vidros empoeirados.
Sigo um pouco mais e sou tomado de surpresa pelo rugido que vem da garganta profunda de um túnel movimentado: é a selva de pedra, a grande metrópole, colocando-me de volta em meu lugar.
Mais um quarteirão e chegarei a restaurantes chiques, bares e lojas de suco coloridos. A propósito, se tivesse caminhado para outro lado seria saudado por pubs irlandeses e aconchegantes choperias.
Por onde fui, no entanto, antes atravesso precários carrinhos de alumínio que vendem churrasco, salsichão, cachorro quente, pipoca e outros artigos. Há também uns caixotes empilhados expondo frutas da época. Basta virar à esquerda ali para entrar em um outro mundo sem luxos, a não ser as parabólicas das TVs digitais por assinatura (tudo pode faltar, a TV não!) com chão de barro e paredes de madeira ou tijolos caiados.
Ali o morro se despeja sobre as luzes reluzentes da grande cidade, mas onde quer que nossos pés nos levem, aquele mundo cinza raramente chega a se afastar mais do que um quarteirão.