Quatro elevadores panorâmicos cercam o grande átrio onde seiscentas pessoas podem se acomodar confortavelmente para comer sanduíches, jogar cartas nas mesas que ficam no centro do gramado ou deitar-se para se banhar na luz artificial que vem de todas as paredes e do teto.

Um pequeno laguinho e uma ponte dão ao lugar um ar de tranquilidade apesar do intenso fluxo de pessoas que correm, andam de bicicleta ou passam apressadas de terno com suas pastas cheias de documentos.

Um casal de velhinhos caminha com seu pequeno poodle, uma moça sentada no banco desenha esboços dos semblantes rígidos dentro do elevador de vidro. Um casal de jovens namorados senta uma mesa vazia. Eles abrem um par de hambúrgueres, refrigerante e batatas fritas, provavelmente um lanche para comer às pressas no intervalo das aulas.

— Hoje está meio quente, né? — Ele tem olhos escuros que contrastam com a iluminação artificial.

— Ah, Mário, tá igual a todos os dias, né?

— É… Tá mesmo… Vai chover hoje, né? Vai ser às 16:45 e até 17:30 por causa do comício dos candidatos ao ministério de cultura.

— Humhum…

Ela balança a cabeça mastigando animadamente e olhando para ele com os belos olhos azuis que parecem rir por ter enchido demais a boca.

— Marla, eu estive pensando… Deve ter um lado de fora em algum lugar, não acha? Quero dizer, para onde vamos há salas, salões e parques com um céu lá em cima que foi criado por nós mesmos um dia, né? Então deve ter existido algo antes de tudo isso, algo que ainda deve existir em algum lugar.

A expressão nos olhos da menina é de perplexidade, como se nunca tivesse lhe ocorrido que há um mundo fora dali, como se nós, aqui no século XXI tivéssemos esquecido que há um mundo fora das cidades.

— O quê Mário???