Ele vem andando pela calçada em minha direção. Olha para mim insistentemente. Irritante.

O jeito irônico, o sorriso vermelho, umas sobrancelhas descabeladas, um pequeno óculos de lentes azuis, tudo no cara é esquisito, sem falar no jeito largado de andar como se fosse uma boia no mar.

O mais irritante é que tudo no cara, tirando os óculos e alguns cabelos brancos a mais, é… familiar. Mais do que familiar, é uma imagem no espelho depois de uma noite mal dormida, um Roney 12 anos mais velho.

Ele vem me encarando. Para a um passo de mim, um palmo para falar a verdade. Diz “É!”.

Aquele “É” de quem quer dizer que, por absurdo que pareça realmente é o que parece.

Olho para ele, entorto a cabeça avaliando o quanto me custaram os 12 anos por vir. Então eu lhe pergunto:

— Fala alguma coisa. Sempre quis saber como é minha voz para quem me escuta.