A madrugada segue mais uma vez sedenta pelas luzes da alvorada e os meus caminhos vão convergindo para o fim numa garagem 24h no Catete, um largo espaço vazio, sob o céu aberto, entre as casas centenárias. Um túnel estreito de paredes feridas pelo tempo e pela umidade lhe dá acesso.
Do lado esquerdo um banco velho de madeira com as bordas gastas, encardido pelo tempo e pela sujeira, serve de cama a uma figura de panos de cores desbotadas, uma velha magra, ossos cobertos pela pele curtida e vincada. A boca se abre para o céu exibindo alguns dentes e dela parece vazar seu espírito em direção ao infinito. Não emite ruído, não parece ter cheiro, mais uma criatura fantástica que desaparece durante o dia abafada sob o véu da saturação dos sentidos.