Jonas, Renata, Taís, Joel, Márcio, Renato e Cacá não se conhecem, nunca se viram, mas caminham com amigos pelos corredores do mesmo shopping center. Por centenas de vezes devem ter se cruzado ali, mas em nenhum outro lugar já que pertencem a dimensões tão diferentes… Não moram nos mesmos bairros, nem trabalham perto e muito menos se divertem nos mesmos lugares. O shopping é o único lugar onde se encontram sem jamais se encontrar.

“Radical aquele tênis ali, né Jonas? Dá até para cegar!! Hahaha!! Pena que custa dois meses do meu salário e…”

Ao redor a multidão de rostos anônimos se cruza entregue a suas histórias individuais.

“… amanhã de tarde… Ele ligou? De… Medo… Alô? Tá muito barulho… sair a esta hora?… Violência… lilás e não roxo com… Jesus amado!… ouvi hoje na rádio é só… João Hélio… puta fome cara vamo… muito caro… arigatô… político la… sem futur…”

Ao mesmo tempo passa Renata e seus amigos… 

“Rê? e este anel de ouro branco que faz conjunto com aquele colar?! Não é lindo demais? Parece com aquele que o Zé te deu, é uma baba, mas não tem a minha cara?”

… escutando casualmente a algaravia de onde uma palavra ou outra se destaca…

“…tarde na igreja… Ele ligou mesmo? eu sa… de andar pela rua?… barulho aqui, não dá para con… como vou sair a… sem Deus tudo é violência e… chapéu lilás… me socorre meu… rádio, é sério! Sua música car… missa em homenagem… comer uma batata… safiras com diamantes… Shizue… ladrão… enonomia do Brasil…”

Tais passa olhando para o Joel pensando conhecê-lo ou simplesmente achando-o bonitinho. Fica se perguntando se ele vai na Lapa. “Impossível encontrar alguém sem querer na Lapa”, pensa antes de voltar a atenção para as amigas. E Joel… Bem, Joel está preocupado com a antena interna que ele precisa comprar para ver o jogo mais tarde.

Márcio, Renata e Cacá se abaixam para pegar as sacolas que uma senhora deixou cair e quase batem suas cabeças antes de mergulharem novamente no rio de vozes e mundos do shopping center.