Claclaplat-clapat-pat-pat-caplat

Dezenas de teclados sendo martelados por dedos inquietos compõe uma sinfonia que lembra cascas de ovos sendo quebradas. O ritmo de trabalho na redação é sempre neurótico assim.

Na verdade muitos estão apenas fazendo barulho para fingir estarem muito ocupados, até se descabelam um pouco e, de vez em quando, arregalam os olhos esfregando-os logo em seguida.

É quase imperceptível, apenas um ouvido mais treinado e acostumado com a cacofonia de vozes e teclados percebe a mudança nos ritmos, é como se tudo ficasse um pouco mais lento. Significa que o Leandro chegou.

Olhos se espicham “discretamente” sobre as baias, algumas pessoas fingem estar indo beber um café ou pegar uma impressão no outro setor.

Ele caminha do elevador até o primeiro corredor, olha as horas, olha para os dois lados. Faz menção de voltar, mas se detém no meio do primeiro passo. Balança a cabeça como quem diz “não, com certeza não esqueci nada”. Verifica o bolso, tira a chave do carro de lá e a observa. Volta a guardá-la. Procura em outro bolso a chave de casa. Vira-se novamente para seguir pelo corredor até sua mesa. Antes do segundo passo retorna quase até o elevador olhando para o chão ao mesmo tempo que tira vários papéis da carteira e suspira aliviado ao conferir que não perdeu nenhum.

A coreografia se repete ainda duas vezes com pequenas variações: Pega o celular e olha as horas, abre a agenda certo de ter perdido um compromisso importante ontem, mas é na semana que vem, verifica se as meias são iguais, ele sempre tem medo de ter colocado meias de cores diferentes.

Finalmente ele se dirige à sua mesa, coloca a pasta ao lado da cadeira exatamente no lugar que sempre a coloca ─ o tapete já tem marcados os seus vincos ─ verifica várias vezes se ligou o estabilizador do computador antes de ligá-lo. Senta-se.

─ Hei! Leandro! ─ Grita alguém do outro lado do setor ─ Será que você desligou o gás do fogão?