Assim mesmo, sem introdução, desenvolvimento ou clímax. Ontem estava lá, hoje…
Morreu.
Ponto parágrafo-final.
Saiu rindo de uma festa, feliz da vida depois de confraternizar com parentes e amigos.
Morreu.
Tinha uma angioplastia que ele deveria ter feito, afinal aos 70 a gente acaba com umas veias entupidas se não tomamos cuidado, mas ele não fez.
…
Foi uma manhã clara, o céu azul como uma arara, um vento fresco apesar do sol intenso, e nós chegando obscurecidos ao cemitério para consolar os vivos.
A cada parente ou amigo que chegava as lágrimas de dor se transformavam em gotas de gratidão e até em sorrisos de alívio.
Em meio a toda dor da perda súbita a multidão crescente – e que foi capaz de se reunir assim de supetão, de um dia para o outro – formava uma comunidade. Todos tristes, perplexos ou até desesperados, mas fraqueza em comunidade parece se converter em força.
A fé ajuda, sim, mas são as trocas de abraços, as mãos espalmadas deslizando suavemente pelas costas, faces e testas franzidas que abrem espaço entre as sombras que cercam a todos para que a fé encontre seu caminho.
Enfim, ele se foi correndo da vida para outro estado, mas quase sem sofrer, talvez ainda rindo das piadas e encontros do almoço festivo que acabara de deixar. Foi-se unindo uma comunidade de amigos e familiares.