Como é estranho estar debaixo da terra em um vagão disparado sobre trilhos elétricos. Não é como estar de volta ao ventre da mãe. Dizem que atravessar um túnel traz associações inconscientes com o nascimento. Não é assim também.
Metrô é mais como se perder dentro da própria mente ou ser capturado por pesadelos no meio da noite, cara! Não tem luz no final daquele túnel, tem plataformas estranhas e artificialmente iluminadas. A gente sai da toca escura, mas não sai de verdade, só chega naquele estranho lugar.
Estação terminal…
Ah! Não tem outra mais estranha.
Foi essa semana. Eu vinha agarrado naquele pilar frio de metal procurando não olhar para a escuridão do outro lado do vidro, aquela escuridão incompleta que se deixa revelar esporadicamente por uns flashes de luz vindos sei lá de onde. O trem reduziu. Ali mesmo no escuro.
Foi seguindo os metros finais até a estação terminal. Parou.
“Senhores passageiros, estação terminal. Favor dirijam-se às portas de saída” – Era uma voz fria, por mim podia ser de uma mulher morta já a muito tempo.
As portas se fecham assim que saímos e o trem começa a se mover para dentro daquela boca escura que vai além da estação terminal. Os vagões vão se apagando conforme passam por mim e, juro pelas minhas botas batidas e penduradas na parede no dia em que eu for entregue aos vermes, num deles, mais escuro até que os outros, eu vi pessoas sentadas! Gente cinza com órbitas vazias que me fitavam lá de dentro enquanto sua jornada continuava escuridão adentro.
Ah! Mas isso não foi o pior! Lá no meio daquela falta de cor achei ter visto, só por um sopro, o vermelho bem vivo de um agasalho de lã sobre os ombros de uma menininha, uma criança inocente com apenas uns seis anos, mas um sorriso sádico como nunca mais espero ver!
Só uma coisa te digo: em vagão vazio do metrô eu não entro nem que seja para não perder o emprego!