“Não dá pé!” ela repetia olhando nos olhos dele e segurando firme seus braços. “Não dá pé! Não dá pé! Não dá pé!”. Sob a água escura do lago salgado seus pés se agitavam para mantê-la fora d’água, mas ela tinha medo. Aquele medo irracional de coisas esguias que deslizam sob nós nas funduras de águas desconhecidas. Mas ria!
Sim, nos olhos entre os cabelos molhados que lhe escorriam pela testa e na boca salpicada de água havia um sorriso discreto. O medo a animava.
Não é sempre que a gente se coloca de pé diante de um monstro, ou que flutuamos sobre ele, como era o caso.
Mesmo com medo lá no fundo temos o prazer de achar forças para nos superarmos e manter os ombros firmes. Que ombros!
Eram jovens, os dois, à distância diriam que tinham uns 18, mas certamente eram mais novos que isso, ainda descobriam o deslumbre da vida e da confiança.
— Você é uma medrosa! Não acredito!
Mesmo na água os cachos dos cabelos dele se mantinham revoltos e balançando enquanto ele ria daquele olhar tão cheio de facetas bem diante dele. Ele se preocupava com o medo dela, é claro, mas nadava sempre ali e sabia que não havia monstro algum. As pessoas enxergam coisas em lugares escuros sempre que precisam de uma desculpa para o próprio medo de viver.
Ele não temia a vida! Ela era um grande oceano a ser vencido a braçadas fortes se necessário!
Naquele momento ele notou que, como quer que ele viesse a cruzar o oceano teria que ser ao lado dela. Puxou-a somente alguns centímetros e bastou para os p?s delicados encontrarem o chão lodoso da lagoa. Ali mesmo, envolvidos por uma das correntes quentes que vinham da margem se beijaram pela primeira vez.