Sento numa janela esquerda do ônibus e espero ansioso pelo Jardim Botânico; já é noite como sempre e as luzes amareladas dos postes tingem asfalto e calçadas de laranja. Corre ligeiro, corre nervoso, até derruba uma velhinha, joga para um lado estalando e freia bruscamente em cada ponto.

Assim são ônibus noturnos: carregam a tensão do dia para dentro da noite escura.

O vento gelado que atravessa a janela me resgata dos pensamentos e chama minha atenção para a escuridão entre os troncos altivos das palmeiras do Jardim Botânico; a escuridão profunda e aparentemente infinita diante de mim certamente não se deixa deter pelas finas grades! Ela mergulha sob a terra estendendo raízes sob o asfalto por onde o ônibus passa…

Ainda agora é como se o solo onde piso não passasse de uma fina casca flutuando sobre as ramificações das florestas onde os índios caminhavam descalços.