O vento fresco, as gotas de chuva, o cio da terra, tudo se afasta empurrado pelo movimento fervilhante que flui pela avenida apertada entre edifcios e suas janelas fechadas. Passos apressados se equilibram sobre as pedras portuguesas escorregadias cobertas pela fina pelcula da chuva. Rostos srios carregam ainda as imagens dos escritrios ou a espectativa do apartamento de portas cerradas.
Uma gota de chuva vem percorrendo o longo trajeto dos cus mais acima, driblando correntes de vento, os sopros dos escapamentos e marquises para ter seu movimento suspenso poucos metros acima da calada, rodopia enquanto o tempo se desacelera e vem chapiscar lentamente ao lado de um sapato velho, rachado e sujo.
O mundo gira em outra velocidade ao redor daquele surrado calado de couro enfiado em um p marcado pelo tempo e pelo cansao. O calcanhar no vestido pelo calcanhar encardido que amassa a borda que se desprende da sola do p a cada passo lento e arrastado.
A dobra da cala jeans puda displicente e frouxa, um terno sem cor envolve o tronco curto e mirrado de um velho de bigodes ralos e olhos fundos marcados por grandes dobras de pele. Olhos que fitam algum tipo de infinito interno procurando-o mais frente. Ele fuma…
um cigarro torto de onde sobe uma fumaa lenta, uma guimba que repousa entre dedos lnguidos e amarelados.
Os passos continuam se sucedendo sem pressa, como se fossem soprados pelo vento, vagando entre borres de cidados atribulados que passam como as lufadas rpidas de vento nervoso.
Ento mais uma guimba esquecida entre as pedras portuguesas da calada. Lentamente ele se detm, curva-se como um ramo de trigo antes da tempestade e colhe o vcio antes que a cinza do anterior se esgote.