— Ah vovó! Fala sério!! Ninguém merece!

— Ué! E se não tivesse todas estas coisas modernas que você tem ai menina?

— Pô vó! Tô cansada! Você sabe que tenho que chegar cedinho no trabalho amanhã!

— É filha, você tem, né? Ah! Essa correria de vocês! E esse negócio na sua boca? Não pode ser bom!

— Ainda dói, sabe? O cara disse que dois dias e nem ia sentir mais nada, só que amahã faz quatro dias e ainda dói, mas ficou bonitinho, não ficou vó? Olha para mim e diz que não achou nem um pouquinho fofo!

— Arre! Pega logo ali a laranja, vai ficar mais bonito assim. Sua prima vai ficar toda boba quando vir! Muito melhor do que dar uma coisa comprada correndo no shopping!

— Você acha mesmo vó!? Na boa? Todo mundo prefere um treco caro e bem feito.

— Pode ser Carolina, mas em nossa família sempre fizemos algo de coração nessas ocasiões e não vai ser agora que vamos parar, viu?

A senhora de cabelos brancos amarrados em coque atrás da cabeça e óculos de aros metálicos meio tortos escorregando sobre o nariz olha sorrindo para a neta que se aproxima balançando os dedos indicadores ameaçando fazer-lhe cócegas.

— Olha lá menina! Respeite sua avó!

Do lado de fora quem passa perto da janela da vila escondida entre os altos edifícios da cidade escuta risos alegres enquanto lá dentro novelos de lã e pequenos sapatinhos de bebê se espalham pelo chão junto com a linha laranja.