Já parou para pensar no melhor lugar para conversar com um ser imaginário? Alguém como o esperto e sarcástico Gato de Botas, por exemplo?

Pense um pouco… Hummm… Você é normal e não tem essa de conversar com seres imaginários? Devia rever alguns valores, viu? Eles em geral são menos absurdos que os seres reais!

Por mim gosto de aconchegantes espaços culturais. Destes com mesinhas, sanduíches e um teatro anexo. O Café Planetário, por exemplo, é um lugar perfeito!

Hoje mesmo decidi encontrar com o bom amigo Gato em um lugar assim. Pretendia assistir à performance artística de alguém que eu conhecia, mas não conheço mais. Sabe como é, as pessoas decidem desaparecer e se transformar em figuras imprevisíveis.

Por um tempo fiquei lá papeando com o bom amigo até que outras pessoas foram chegando para o espetáculo.

– Oi! Você já viu este espetáculo na estreia? – me pergunta um.
– Não… Nem fiquei sabendo que haveria. – respondo.

Passa um tempo e toca o telefone de outro, é o artista avisando que está a caminho e fica sabendo que estamos lá (o Gato e eu).

– Oi cara! Você ficou sabendo, né? Pensei em te ligar! Mas tinha certeza que você acabaria descobrindo! – diz animadamente do outro lado da linha. O Gato me olha de lado com seu sorriso cínico emoldurado pelos pelos macios.
– Pois é! Fiquei sabendo. – respondo.

O Gato me empurra um copo com bastante gelo e mate com pêssego. Intrigado me pergunta: “você deve algo a este cara?”.

Nem preciso responder, ele sabe que sou mais afeito a fazer favores do que a pedir por eles. É o caso. Por diversas vezes quebrei o galho para o jovem artista… Exceto por uma vez quando precisei dele e lá estava, prestativo coberto de puras intenções. Procuro na memória pela expressão do seu olhar e ela não se encaixa mais no grupo de estranhos que nos cerca.

Adivinhando os meus pensamentos meu parceiro de noitadas e longos papos chama o garçom e…

– Será que não tem algo melhor a fazer, como beber um suco? – me pergunta.

E ele tem razão!