Est?tua na pra?a Nossa Senhora da Paz - Ipanema - RJ

Indiferente… Ela me fita indiferente. Anos, décadas, séculos, talvez milênios, quantas vidas seus olhos vazios assistirão até que o tempo se esgote, que as partículas impiedosas de oxigênio finalmente a transformem novamente em pó?

Diante dela duas crianças “de rua”

O garoto e sua irmã sentem a areia agradavelmente áspera sob seus pés enquanto caminham descalços, finalmente livres do lar pobre ou talvez da companhia insuportável dos pais.

Olham com medo para o policial que tenta ajudá-los, com desconfiança para as pessoas ricas do asfalto que nunca se importaram.

Pode ser que a fuga não seja nada além da natural rebeldia adolescente, talvez seja mais uma vez vidas perdidas entre os jogos de poder de uma humanidade jovem demais, ainda indiferente demais.

A estátua testemunha. Suas mãos languidamente largadas sobre o colo como se dormisse, indiferente a nossos amores, nossos sonhos e pesadelos.

Amanhã ela estará lá, coberta por gotas da chuva noturna, mas sem nem uma lágrima sequer.