A cidade dorme, entre os edifícios apenas o farfalhar casual de morcegos em busca de insetos. O frio recolhe o povo da rua para o calor imaginário de seus cobertores rasgados. Uma buzina solitária se perde rapidamente nas sombras das copas das árvores, mas não sem antes causar o sobressalto de um velho ancião que dormia em seu leito aguardando o sono sem sobressaltos nos braços suaves da morte. Ao mesmo tempo um pequeno menino que acaba de chegar chora por um segundo nos braços da mãe ainda achando estranho este mundo seco antes de voltar a dormir acalentado pelo carinho materno. Em uma casa no Humaitá um ser noturno envia cartões virtuais de aniversário enquanto o frio insiste em se enredar em seus pés apesar das portas e janelas fechadas… Do outro lado, no Flamengo outro destes espectros escreve com dedos velozes como se pudesse enganar o tempo que passa sem cessar e logo dissipará o véu escuro da noite revelando uma manhã pálida e nublada…