A luz desaparece das fachadas dos grandes palácios da Cinelândia deixando o véu de sombras cobrir as colunas da assembléia, as escadas do municipal, a varanda da Biblioteca Nacional…

A legião de passos repetitivos dos construtores cansados atacam o chão sujo de pedras portuguesas arrastando as correntes pesadas de uma vida pela metade, uma vida de cimento sem música, de lágrimas sem arte. Uma vida de máquinas de espirais de carbono programadas pelo martelo da repetição e do calor das forjas da razão.

Então entre as sombras se levanta o movimento inesperado, a melodia inusitada. Bailarinos rodopiam em movimentos que laçam o sonho perdido no leito do lago daquelas consciências embotadas. Uns refletem os movimentos duros dos becos escuros das grandes cidades, outros a paixão e o ciúme e depois desaparecem entre a floresta de sombras que aplaude e leva para as horas da noite o refresco do sonho.

Inspiração: Construção, Chico Buarque