– Tá, são duas árvores altas, parece que vão mergulhar no azul do céu, é legal, mas e daí?
– Puxa Ana! Cadê a sua sensibilidade, cara? Não acredito que você não consegue ver a metáfora por trás disso!
– Eduardo. A única coisa que estou vendo é um calor do cacete! Se não fossem coqueiros já estariam secas! Vamos atrás de um chopp, pelo amor de deus!
Ele se vira para ela e depara com o rosto suado, cabelos grudados na testa e expressão dura, mas o brilho nos olhos denuncia que se diverte com a situação.
Ela coloca as mãos na cintura e estica o pescoço para o alto exatamente como ele fazia segundos antes e deixa o sol ferir seus olhos olhando para as copas solitárias lá no alto.
– Tá… Somos nós então.
– Como é Ana? Nós?
– É, cara! Tão elas ai cravadas no chão seco e cheio de pedras. Tem um céu lindo e azul lá em cima que elas nunca alcançarão. As cabecinhas verdes e vazias delas ficam pertinho balançando ao vento, mas não se tocam. Cada uma tem sua própria vida mesmo passando a vida toda uma do lado da outra. Caralho! Séculos de vida lado-a-lado sem se tocar! Lindo, né?
– Porra! Você devia escrever estas tirinhas sarcásticas que saem nos jornais aos domingos! Vamo tomar um chopp, você ganhou!
Ela solta uma gargalhada infantil e corre na direção dele pegando-o pela mão obrigando-o a correr com ela. No meio da respiração ofegante ela diz e ele finge não ouvir: “só lá debaixo da terra é que elas compartilham a água e os sonhos”
P.S.: estava com saudades de escrever estes devaneios…