Escatologicamente e magistralmente Neil Gaiman satiriza a cultura popular estadunidense em seu livro Deuses Americanos, mas se tivesse passado mais tempo no Brasil se encantaria com nossos deuses que, como no seu romance, caminham entre nós como humanos, saltando de um mendigo a uma criança e depois a um velho que joga damas com o cachimbo tombado no lado da boca.

Na esquina da rua do Catete com outra sem nome em minha memória que se recusa a decorar nomes de ruas, se estende enorme o esqueleto da Renascença. Loja que já foi até cantada pelos mestres da nossa música e hoje é o eco vazio do abandono, região de espectros que poderiam espiar lá do fundo escuro nossa passagem pela calçada aproveitando-se do véu com que escondemos tudo que é feio, do morador da rua ao prédio em ruínas…
Vira e mexe os espectros escapam, vagam ao nosso lado pela calçada, assim foi hoje!

A pele marrom, escura como o barro fértil, barbas e cabelos negros, curtos, uma única perna fina usada para saltar, o bermudão largo, sem camisa e uma árvore por desafio! Lá vou eu em busca de um novo lar para mim e deixo este saci moderno escalando sua árvore onde se empoleira como um pombo e se entretém a nos observar passando em nossas vidas tão importantes…

Imagem: Brésil Coolture