– Cansado, mulher! Tô cansado…
Sua voz soa fraca, grave e suspirada, se atira na cama soltando um gemido profundo e reverberante que, fraco e cansado, morre antes de quebrar o silêncio dominado pelas sombras do sol que já se põe do outro lado da janela de madeira fechada. A pouca luz entra pelas frestas das ripas carcomidas pelo tempo.
A camisa encardida e puída jogada em um canto do barraco, os sapatos arranhados de couro surrado pelo trabalho exalam aquele odor de pés fechados por quase um dia inteiro.
Seus olhos embaçados e avermelhados de cachaça se perdem em algum lugar entre as sombras nos cantos do quarto sem se importar com as crianças que gritam do lado de fora brincando de polícia e bandido.
A mulher vem arrastando chinelos, uma moça bonita com menos de trinta, mas encurvada pelo peso do sorriso que cobre seu rosto e reflete em seus olhos fazendo-os brilhar!
– Chega para lá João!
Ela lhe dá um tapinha, o homem rude e grande sorri e se espreme na cama para lhe dar espaço e a recebe nos braços cansados.
O cheiro do xampu barato o envolve, com um carinho nos cabelos dela ele mergulha no aroma conhecido e familiar e, com um sorriso no rosto, adormecem…