Não dá para ver a lua lá em cima, as nuvens ainda a escondem.

Cheiro de terra molhada… A gente esquece dessas coisas vivendo entre os corredores de concreto das grandes cidades. Esquecemos tão totalmente que nem o notamos quando ele finalmente emana depois de uma grande enxurrada, mas ali, na beira da praia, o cheiro a tomou tão completamente que foi impossível não acordar dos pensamentos.

O calçadão está vazio, todos tem medo que outra tempestade esteja a caminho e não querem se molhar.

Os carros passam apressados levantando gotículas do asfalto e fazendo aquele som característico que sempre vem acompanhado de um festival de reflexos já que tudo está coberto com a película de água da chuva.

Ela estava pensando na vida. Hora engraçada para pensar nisso: a caminho de um dos novos quiosques para beber com uns amigos antes de mergulhar na noite e dançar, dançar…

Aliás, dançar é um ótimo sentido para a vida! Por que viver tem que ser um castigo e a Terra um purgatório? Quando os prédios ali ao redor eram árvores a vida era muito mais difícil, mas não era um castigo e sim uma dádiva.

Era esse tipo de coisa engraçada que estava passando pela cabeça dela quando o cheiro de terra molhada a despertou. Ou será que foi ele que a fez pensar nessas coisas? Cheiros nos fazem pensar?

– Você sempre anda tão distraída pela rua? – a voz familiar está bem à sua esquerda

– Nossa! Há quanto tempo você está ai?

– Olha, já tem um tempinho que estou caminhando bem ao seu lado… E o quiosque ficou para trás, viu? A gente te viu passando! Hahahaha!

Realmente! Lá estão seus amigos sentados ao redor de uma grande mesa branca sob um enorme ombrelone também branco de onde ainda pingam algumas gotas de chuva.

Eles levantam um copo com um líquido esverdeado. Já pediram sua bebida predileta! O cheirinho de hortelã vai combinar com o da chuva nas matas escondidas que se estendem pelos corredores de asfalto até ela.

Lá no céu finalmente a lua escapa do véu de nuvens carregadas de água e sorri timidamente para ela, afinal é o segundo dia depois da lua nova.

Post escrito para a @bridinha