O poste oscila levemente quando passam os ônibus afoitos.
Tem que olhar com atenção para ver e isto é exatamente o que o mendigo faz naquele momento, sentado no chão sujo e coçando a barba emaranhada e encardida. Seu olhar perdido e catatônico se hipnotiza pelo poste oscilante.
De seus bolsos rasgados escapam trapos e tiras de papel higiênico barato enquanto a poeira levantada pelas pessoas que passam apressadas se embrenha em seus cabelos.
As unhas são garras incrustadas de sujeira negra como o óleo e somem para dentro das calças largas e coçam a flácida pele íntima.
Ao seu redor a luz se curva à sombra, ao ocaso de uma vida largada ao meio dia de outono.