Atravesso a calçada fervilhante de pedestres em direção ao Largo do Machado. O som me segue como um mantra recitado entre lábios cerrados…
Daumesmola, daumesmola…
A voz grave totalmente desprovida de emoção e ao mesmo tempo encerrando em suas entranhas uma dor profunda e a tanto tempo companheira que já não tem cores ou entonação.
Daumaesmola, daumesmola, daumaesmola…
Quase escuto a batida ritmada de um tambor que deveria acompanhar aquele canto monótono enquanto me lembro das antigas galeras e seus remadores: Remem, remem!
Daumaesmola, daumesmola…
Me afasto alguns metros e viro para encontrar o rasgo na realidade de onde escoa este lamento. O pescoço sustentado por um colar ortopédico – daumesmola – o tronco envolvido em gesso – daumesmola – um par de muletas supre a falta da perna esquecida em algum lugar – daumesmola- os movimentos mecânicos da mão conduzindo os trocados recebidos para o bolso improvisado no tecido dobrado que deveria envolver a perna perdida…
Daumesmola…
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