A luz da sala escapa pelas frestas da porta da varanda e espalha reflexos no chão molhado pela chuva que produz um chiado suave nas folhas das plantas. Um vento frio se esgueira entre as setas de luz e penetra na sala onde ela trabalha incessantemente.

É uma sala bem iluminada, mas a mulher na mesa folheando centenas de páginas cobertas de anotações permanece tão concentrada que é como se os cantos ficassem imersos nas sombras, tão distantes da sua consciência quanto os sonhos que ela anseia ter quando finalmente puder dormir!

A cadeira estala enquanto ela rapidamente junta um bolo de páginas e as ajeita batendo as sobre a mesa duas ou três vezes antes de empilhá-las sobre uma pilha que fica cada vez maior.

Diante dela um monitor de computador emite a única luz que ela percebe. De tempos em tempos seus dedos tamborilam rapidamente pelas teclas e depois voltam a segurar um lápis usado para fazer anotações no papel.

Conforme as horas passam insensíveis a prazos ou aos caprichos dos humanos ela mergulha mais profundamente nas páginas rabiscadas e a noite se fecha sobre a sala como uma grande manta escura até que apenas a luz do monitor e uma suave luminescência que emana da mulher permaneçam.